quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

2008 Rewind VI

Mais música:
CONCERTO: LONDRES: MICHAEL VAN DER AA - Mask, Here [In Circles] - Southbank Centre - 9 de Outubro de 2008
Michael van der Aa (MySpace) é um jovem compositor holandês que apresentou dia 9 de Outubro, no Southbank Centre, as obras Mask e Here [In Circles] (substituída à ultima da hora), integrado no ciclo Music of Today. Som novo! Vou deixar que alguém descreva a música por mim, porque eu não consigo:

“The Dutch Michel van der Aa is one of the most exciting younger composers anywhere, active in both concert music and multi-media. The music is unflinchingly clear, hard-edged, sharply profiled and rhythmically agile. Both works heard in this opening Music of Today concert combine instruments with technology to decidedly unexpected and sometimes ironic effect.”

Outra descrição:
"Michel van der Aa writes music that is similar in its effect to photography… music as an art of time is detached from time itself, and sounds become snapshots of a process. Potential developments are immediately blocked by interruptions, flashbacks, unexpected repetitions. The doubling of music through an electronic shadow creates a kind of multiple exposure… the impression of the music is strong and emotionally draining." Berliner Zeitung

As duas peças não foram particularmente difíceis, o que não quer dizer que não me tenham passado igualmente ao lado. Mas é agradável ver alguém tão novo como Michael Van Der Aa a compor. Quando imagino compositores modernos (como Stravinsky, Ligeti), imagino velhos sábios a ensaiar orquestras de forma implacável, nunca penso propriamente que eles foram jovens e já compunham na altura. Pelo menos, é agradável ver alguém reconhecido pela sua obra antes de ser septuagenário.
Na apresentação do concerto, Michael van der Aa revelou o seu interesse pelas artes performativas e pelo cinema, e de como integra esses aspectos na sua forma particular de escrever música. Melhor que tudo, revelou a preparação de um novo trabalho baseado no Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, um nome que cada vez mais se ouve falar e que parece estar na moda no mundo artístico (digo eu). A estreia da obra de música-teatro (e multimédia) The Book of Disquiet foi a 2 de Janeiro, em Linz, Áustria (capital Europeia da cultura), com Klaus Maria Brandauer, a fadista Ana Moura e João Reis (o mesmo actor que interpretou Pessoa na peça Turismo Infinito, no D. Maria II). Ao que parece, a peça foi muito bem sucedida. Segundo o site do compositor, novas apresentações da peça estão planeadas para a Holanda e Portugal para o final do ano, portanto resta-nos esperar. Crítica da estreia aqui.



Fernando Pessoa traduzido para inglês fica assim:

From The Book of Disquiet:

"Today, feeling almost physically ill because of that age-old anxiety which sometimes wells up, I ate and drank rather less than usual in the first-floor dining room of the restaurant responsible for perpetuating my existence. And as I was leaving, the waiter, having noted that the bottle of wine was still half full, turned to me andsaid: ‘So long, Senor Soares, and I hope you feel better.’"

"My favourite dream, where I'm a retired major in a small-town hotel, hanging on after dinner - the lingering major, sitting there for no reason."

"And I began, all by myself, to make paper boats with the lie they'd given me. No one would believe in me, not even as a liar, and there was no lake where I could try out my truth."

"Useless landscapes like those that circumscribe Chinese teacups, starting out from the handle and abruptly ending at the handle. The cups are always too small...Where would the landscape continue if it could continue past the teacup handle?”

"I used to hear the sound of scales played on a piano, the monotonous practicing of a girl I never actually saw...And with the relentlessness that comes from the world's depths, with a persistence that strikes the keys metaphysically, the scales of a piano student keep playing over and over, up and down the physical backbone of my memory."

"I throw an empty matchbox towards the abyss that's the street beyond the sill of my high window without balcony."

Fotos: www.doublea.net
http://www.boosey.com/cr/news/Michel-van-der-Aa-Music-of-Today-premieres-in-London/11674
http://www.doublea.net/work_info/w_disquiet.html


EXPO/CONCERTO: LONDRES: Felix’s Machines + Leila Arab + Paul Davis – Gasworks Gallery – 19 de Dezembro de 2008
Felix’s Machines é a exposição apresentada por uma pequena galeria em Vauxhall de uma obra techno-artesanal de Felix Thorn. O conceito é simples: uma máquina de tocar instrumentos (essencialmente de percussão e xilofone), programável através de computador. À medida que a máquina toca, são accionadas pequenas luzes que sinalizam a proveniência do som, e o espectáculo sonoro torna-se visual também. A música que esteve em mostra parecia algo saído de um novo álbum da WARP, com batidas concertadas, muito rápidas, próximo da música electrónica (IDM/braindance) desenvolvida por Aphex Twin. É por isso apropriado que Leila Arab, uma manipuladora de sons que já trabalhou com Björk, gravou com a Rephlex, e lançou em 2008 pela WARP o álbum Blood, Looms, and Blooms, tenha sido convidada para actuar na festa da exposição. Paul Davis também apresentou um DJ set (com um som mais urbano), mas passou-me despercebido comparado com Leila, que alternou entre a spoken-word, noise, e samples desde Erik Satie a Aphex Twin, tudo com um apurado sentido musical. Foi um DJ set monumental.



Fui à exposição/concerto sem saber quem era Leila Arab. Só quando a vi a preparar-se para actuar é que me apercebi que já a tinha visto em grande performance, ao lado de Björk num concerto de 1997, Live at Shepherd’s Bush Empire, em DVD - numa altura em que parecia que Björk se ia passar para o lado do techno-industrial. Alguém me sabe dizer o que se passa no final desta música? (YouTube)



Mais importante, Eileen Simpson e Ben White fizeram mais tarde uma performance (a 19 de Dezembro, mas a que eu não assisti) com música original baseada na sonoridade das caixas de música do séc. XIX, e também música especialmente composta para Felix’s Machines, desta vez já com Felix Thorn, e mais parecida com o trabalho minimalista de Steve Reich. Ao conjunto deu-se o nome Perforations. É de copyright livre e pode ser adquirido aqui.
Foto: Gasworks Gallery
http://www.gasworks.org.uk/exhibitions/detail.php?id=403
http://www.youtube.com/watch?v=4CdA-ivDj8o



CONCERTO: London Symphonic Orchestra – BÉLA BARTÓK – Concerto para cordas, percussão e celesta + JOHANNES BRAHMS + AUGUSTA R. THOMAS – Barbican Centre – 14 de Dezembro de 2008
Aliada a imagens sugestivas, a música de Bartók fez de Shining, de Stanley Kubrick, o filme assustador que é, e colou-se ao filme da mesma forma que Assim Falava Zaratustra, de Richard Strauss, se colou a 2001: Odisseia no Espaço e às nossas memórias colectivas. Dia 14 de Dezembro fui ver e ouvir a peça “Música para cordas, percussão e celesta” de Béla Bartók no Barbican Centre, tocada pela LSO, numa casa metade cheia, e devo dizer que foi tão poderoso que cheguei a casa e tive de ouvir várias vezes o segundo movimento porque não me saía da cabeça. Quanto aos críticos, nem tanto (notícia, aqui). O piano e a harpa, instrumentos extremamente melódicos, são usados nesta peça quase como instrumentos de percussão. A peça tem uma energia imensa, e os sons dos instrumentos vão-se transfigurando uns nos outros constantemente. Aqui está um excelente exemplo desta obra de Bartók, conduzida por Christoph von Dohnányi (YouTube):



Esta foi uma sessão em que também teve lugar a estreia mundial de Helios Coros II, a segunda parte de um bailado ainda por terminar de Augusta Read Thomas, de quem eu nunca ouvi falar, mas ao que parece é uma das compositoras americanas mais interessantes da actualidade. Numa sessão uma hora antes do concerto, Augusta Thomas (uma mulher de 40 anos muito expansiva e sorridente) explicou o seu percurso e a sua obra mais recente. Mas a peça musical não teve grande impacto, talvez precisamente por ser parte de uma peça de bailado - que ainda não vimos - e por ser a segunda parte de um bailado cuja primeira parte também não ouvimos, portanto não me culpo demasiado. Mas ficou a ideia de grande leveza, uma música que nunca se repete, transforma-se sempre.
Tocou-se ainda o Concerto para Piano N.º1 de Brahms – o seu primeiro trabalho orquestral.

http://lso.co.uk/home/

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

2008 Rewind V

Mais de Londres:


National Gallery
http://www.nationalgallery.org.uk/
Ver pela primeira vez os Girassóis de Van Gogh ou as pinturas de Leornardo da Vinci são coisas que não se esquecem. Só visto.

British Museum
http://www.britishmuseum.org/
Para além da colecção lendária do British Museum, uma exposição de gravuras japonesas, e ainda Statuephilia, uma exposição de esculturas de artistas contemporâneos como Damien Hirst, Antony Gormley e Mark Quinn (que mostrou Siren, uma escultura a ouro de Kate Moss numa posição avançada de yoga).





EXPOSIÇÃO: LONDRES: The Revolution Continues: NEW CHINESE ART – Saatchi Gallery – 9 de Outubro de 2008 a 18 de Janeiro de 2009
O novo edifício da Saatchi Gallery, em Chelsea, abriu portas com esta mostra de nova arte chinesa. Foram precisos três pisos para mostrar grande parte do espólio. As obras pertencem a uma geração de artistas que olha a China com um olhar crítico e politicamente independente. A relação da China com o ocidente, a eterna influência de Mao e a modificação da paisagem económica e cultural são os grandes temas da exposição.
As minhas obras favoritas foram a instalação de Sun Yuan e Peng Yu (que mostra líderes mundiais envelhecidos, em cadeiras de rodas), as obras de cinza de Zhang Huan, as pinturas de Yue Minjun, Zhang Xiaogang, e a escultura de Zheng Guogu (Waterfall, 2003).
No meu entender, a arte no Ocidente foi perdendo um dos factores que a tornam importante - ser um olhar crítico do mundo em que se vive hoje, o Presente. Falta mais arte "política", talvez. É por isso que a nova arte chinesa é tão importante. Parece-me que o desenvolvimento da história da arte Ocidental, ao questionar-se constantemente a si mesma e ao conceito de obra de arte, perdeu o rumo, está às voltas sobre si própria e não olha para fora. Em vez de uma arte virada para o futuro, temos Jeff Koons e Damien Hirst. Parece que o 11 de Setembro nunca aconteceu. A arte do século XXI, e dos novos artistas dos anos 90 até agora, pelo que conheço, é apenas mais um reflexo do resto da cultura estratificada, pluri-ideológica (ou anti-ideológica), niilista e materialista, em vez de ser a impulsionadora de uma nova vaga, ou de uma nova forma de pensamento moderno. Estamos neste limbo que é o pós-modernismo, e que parece não ter fim.
Talvez o tempo das vagas tenha acabado. Os artistas do novo século resistem a pertencer a qualquer forma de dictame, só se pertencem a eles mesmos. Talvez seja esse o caminho certo - a verdadeira arte global e multicultural - mas ainda não chegámos lá.
Fotos: Saatchi Gallery.


http://www.saatchi-gallery.co.uk/artists/new_art_from-china.htm
Flickr: http://www.flickr.com/search/?q=saatchi%20chinese%20art&w=all
Video: http://www.youtube.com/watch?v=SpQ66pcb81s







EXPOSIÇÃO: LONDRES: LUCIAN FREUD - Early works 1940-1958 – Hazzlit Holland-Hibbert Gallery – 9 de Outubro a 12 de Dezembro de 2008
As primeiras obras de Lucian Freud, algumas feitas com apenas 17 anos de idade, são de uma sensibilidade palpável. A dimensionalidade das figuras faz com que as pinturas pareçam feitas de papel dobrado e tenham uma enorme leveza. Foi interessante conhecer as primeiras obras de Freud, contemporâneo de Francis Bacon, antes de as suas obras atingirem recordes nos leilões, e de se tornar num dos grandes retratistas contemporâneos.
Fotos: HHH.

www.hh-h.com/
Press release: http://www.hh-h.com/documents/LucianFreudPR.pdf





EXPOSIÇÃO: LONDRES: RICHARD SERRA – Sculpture – Gagosian Gallery – Brittannia St. – 4 de Outubro a 20 de Dezembro de 2008
Richard Serra é o maior nome da escultura contemporânea. As suas obras questionam o espaço, a vivência do espaço, e a própria escultura. Esta exposição foi o meu primeiro contacto com o escultor, com obras que deixam que o visitante entre nelas e as percorra literalmente. As esculturas são folhas monumentais de metal ferrugento. Open ended (2007-2008) é uma enorme folha de metal que se fecha sobre si própria como se fosse uma flor. Há mesmo uma escultura com o nome Fernando Pessoa: uma barra de metal espessa, estendida na horizontal. Richard Serra fala sobre a sua nova exposição na Gagosian Gallery, sobre Portugal, sobre Fernando Pessoa e sobre o estado da arte aqui.

http://www.gagosian.com/exhibitions/2008-10-04_richard-serra_1/
http://artobserved.com/go-see-richard-serra-sculpture-at-gagosian-gallery-london-through-december-20-2008/





Outras exposições:

Portrait Gallery
http://www.npg.org.uk/
Para além da colecção permanente, tive oportunidade de ver uma nova colecção fotográfica e dois óleos (retratos) belíssimos de Paula Rego.

Royal Academy of Arts
www.royalacademy.org.uk
Vi aqui a Pequena Dançarina de Edgar Degas, antes de ser posta à venda na Sotheby’s, que também visitei. Notícia aqui.

Victoria & Albert Museum
www.vam.ac.uk/
Aqui, vi A Grande Onda, de Hokusai (a mais conhecida impressão japonesa) a ser reproduzida tradicionalmente (quatro vezes), ao vivo, por um mestre japonês.

Serpentine Gallery – GERHARD RICHTER – 4900 Colours
As novas obras de Gerhard Richter na Serpentine, uma galeria projectada por Frank Gehry e situada dentro do Hyde Park. A série de quadros pixelizados, com cores espalhadas aleatoriamente, com o nome 4900 Colours, valem mais pela continuidade da obra de Richter, que pelo seu valor intrínseco.
http://www.serpentinegallery.org/2008/06/gerhard_richter4900_colours_ve.html

Lisson Gallery – Fernando Ortega
http://www.lissongallery.com/#/exhibitions/2008-11-26_fernando-ortega/

Barbican Centre – Rafael Lozano-Hemmer – Frequency and Volume http://www.barbican.org.uk/artgallery/event-detail.asp?id=7879

domingo, 25 de janeiro de 2009

2008 Rewind IV

Para alguém falido como eu, a melhor maneira de estar exposto às coisas mais interessantes possíveis por metro quadrado, no menor intervalo de tempo possível, e ao menor custo, é marcar uma viagem a Londres em época baixa. Aproveito a minha viagem a Londres de Setembro a Dezembro para acabar de fazer o balanço das coisas mais interessantes que vi em 2008, pelo menos em termos de música, cinema e artes plásticas.




EXPOSIÇÃO: LONDRES: TATE Modern + ROTHKO – 26 de Setembro a 1 de Fevereiro de 2009
O Tate Modern é um edifício magnífico, construído há pouco tempo mas sem parecer futurista, como a maioria dos novos museus de arte contemporânea. A exposição permanente foi a melhor exposição de arte contemporânea que vi até hoje (gratuita), mas a exposição especial (£12.5) da obra do Rothko foi uma desilusão por ser tão pouco representativa do percurso do pintor (em direcção ao abstraccionismo/minimalismo).
Eram à volta de 15 telas enormes em tons de preto, castanho e vermelho, em quase todas as combinações possíveis, dispostas num espaço relativamente pequeno de três salas. Pareceu-me que os quadros não foram suficientemente iluminados e não consegui ficar deslumbrado pela presença das telas, como esperava, nem ver bem a complexidade da textura da tinta ou as camadas de cor. Foi-me prometida uma experiência religiosa, mas nada aconteceu. As telas mais impressionantes foram as de negro sobre negro, e foram também o mais próximo que estive de uma epifania, mas os crentes eram tantos que era impossível estar sentado a ver uma pintura em paz e sossego. No final, como a compensar, comprei um azulejo (pintado a emular a técnica de Rothko) na loja do Tate.
Aparte tudo isto, não desisti nem de Rothko nem de ver uma grande exposição da obra dele.

Fotos: Tate
Mais informação e exposição virtual em:
http://www.tate.org.uk/modern/exhibitions/markrothko/default.shtm
Flickr:
http://flickr.com/search/?q=rothko+tate+modern&m=text





EXPOSIÇÃO: LONDRES: TATE Britain + FRANCIS BACON + Turner Prize 2008 – 11 de Setembro de 2008 a 4 de Janeiro de 2009

O Tate Britain é o irmão mais velho do Tate Modern, um explora a arte dos séculos XIX e XX (uma colecção belíssima), o outro explora as vanguardas do século XX e a arte contemporânea. A ligá-los está uma viagem de barco pelo Tamisa. Exposições de artistas da dimensão de Rothko e Bacon surgiram ao mesmo tempo nos dois museus, como que a chamar à atenção para a disparidade de expressão da arte moderna.
Desde que cheguei a Londres que queria ver a exposição do Francis Bacon, a mais completa até hoje, ao que parece, na altura do centenário do seu nascimento. Havia publicidade no metro, nos jornais e na rua. Bacon é uma das referências da arte do pós-guerra. Deu um novo fôlego à pintura e ao figurativismo quando se pensava que um e outro tinham os dias contados, numa altura em que a instalação, fotografia, vídeo art e a land art começavam a criar interesse.

Não vou fingir que sou o maior especialista em arte contemporânea (a minha área, antes de cinema, foi científica), mas Bacon é o meu pintor favorito, por isso vou ser o mais poético/lírico possível, até ao limite do suportável. Os quadros são intensos e as cores são fortes, há corpos em revolução num fundo negro, animais em movimento, abismo e morte, angústia, solidão, crucificações, por vezes tudo no mesmo quadro. Corpos humanos são, na verdade, carcaças em potência, e os seus movimentos, animalescos. São um olhar penetrante até à essência humana e à dor de viver do homem moderno. A violência do real é quase inacreditável, completamente insuportável. É o tipo de imagem que fez Lynch ser linchiano.



Foi agradável ver tantos quadros tão bons no mesmo sítio. Havia gente a mais e tempo a menos, como tudo em Londres. Gostava de ter visto os quadros mais uma vez.
A exposição foi exaustiva e mais educativa do que a do Rothko, no Tate Modern. Houve espaço para esquissos, livros, fotografias (maltratadas pelo estúdio que ficou lendário pela sua desarrumação) coleccionadas por Bacon e nas quais se baseava para as suas obras. Algumas fotografias, retiradas de livros, revistas, filmes, são muito esclarecedoras quanto ao modo como se transfiguraram em pintura, e de repente é fácil perceber o que move Francis Bacon. Bacon era claramente um artista da quarta dimensão, isto é, do movimento e da verdade que lhe era revelada no puro instante da fotografia – os seus quadros, mais reais que o real.

"I think that man now realizes that he is an accident, that he is a completely futile being, that he has to play out the game without reason". Francis Bacon

Mais informação e exposição virtual em:
http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/francisbacon/
Flickr:
http://flickr.com/search/?q=francis+bacon+tate+britain&m=text
Documentário sobre Francis Bacon:
http://www.ubu.com/film/bacon.html


Também no Tate Britain, esteve a exposição colectiva Turner Prize 2008. O Turner Prize é um prémio anual de arte contemporânea para os novos artistas britânicos que produziram o percurso mais interessante. Este ano o vídeo esteve em força, quase todos os participantes o utilizaram. Nota-se uma mudança de paradigma nos materiais utilizados, no discurso, na forma de comunicar com o público, no modo de fazer arte – mas nada de radicalmente novo é dito. Este ano os artistas presentes foram Runa Islam, Mark Leckey, Goshka Macuga e Cathy Wilkes. Mark Leckey acabou por ganhar o Turner Prize 2008, pelas exposições Industrial Light & Magic e Resident.
http://www.tate.org.uk/britain/turnerprize/turnerprize2008/

Simultaneamente, no corredor central do museu, um projecto de Martin Creed (Turner Prize de 2001) pôs pessoas a correr pela galeria a cada 30 segundos. (algo parecido com o que acontece no Louvre em Band à Part (1964), de Jean-Luc Godard)
http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/duveenscommission/default.shtm





EXPOSIÇÃO: LONDRES: ANDY WARHOL: Other Voices, Other Rooms + ROBIN RHODE: Who Saw Who – The Hayward Gallery / Sounthbank Centre – 7 de Outubro de 2008 a 18 de Janeiro de 2009
Adoro Andy Warhol. Gostar da maioria dos grandes pintores do pós-guerra pode parecer uma contradição, porque são todos tão diferentes (Warhol rompeu com a tradição artística que Pollock desenvolveu, por exemplo, apesar de eu gostar de ambos), e grande parte deles desenvolveu obras que romperam com o passado à sua maneira (criaram ramificações na história da arte por serem tão pessoais). Quase todos também se interrogaram sobre o que faz uma obra de arte ser uma obra de arte, algo que continua nos dias de hoje. Artistas como Pollock, Rothko, Bacon, Warhol, e mais recentemente, Richter.

É preciso notar que o meu interesse pelas artes plásticas é puramente amadora. O meu percurso não foi artístico, apenas tento ver o máximo de arte possível; gosto do que gosto e tento perceber porquê.
Warhol fez-me gostar de arte, e questionar-me sobre a prática e o objecto artístico. Gostei imediatamente da sua irreverência intelectual. Warhol era sobretudo um artista das ideias. As pinturas/impressões são simples mas os conceitos são complexos. Os filmes de Warhol são, para mim, especialmente poderosos e inovadores. Eat, Sleep, Empire, e a maioria dos seus filmes mudos a preto e branco, são meditações sobre o tempo, o ser, “acting” e “non-acting”, e sobre a própria imagem em movimento. É como olhar pela primeira vez para alguma coisa. É refazer a história do cinema.



Esta exposição, na Hayward Gallery, foi precisamente sobre os filmes de Andy Warhol, incluindo alguns dos famosos “screen tests”, o trabalho televisivo para a Warhol TV, e arquivos vídeo sobre a Factory. A filmografia mais importante estava toda numa única sala enorme, a ser projectada simultaneamente em vários ecrãs, com som localizado (quando existia). Foi interessante para quem queria encontrar um estilo comum, se é que ele existe, na obra cinematográfica de Warhol, ou ter noção da sua variedade, mas frustrante para quem queira conhecer a obra a fundo, porque era impossível ver tudo (Chelsea Girls demora cerca de 3 horas, por exemplo). Em exposição, havia ainda desenho, livros, capas de discos, revistas, e toda a espécie de documentos que Warhol juntou obsessivamente ao longo da vida. Uma exposição ambiciosa, mas sem o espaço necessário (que precisa de ser repensado) para dar a conhecer a imensidão de arte e informação que contém.

Mini-site da exposição:
http://www.southbankcentre.co.uk/minisite/andy-warhol
Flickr:
http://www.flickr.com/search/?s=int&q=Hayward+Andy+Warhol&m=text
Documentário sobre o cinema de Warhol:
http://www.ubu.com/film/warhol.html



Também na Hayward Gallery, Robin Rhode: Who Saw Who. Robin Rhode é um artista contemporâneo sediado em Berlim, que trabalha no domínio da performance. Muitos dos seus trabalhos envolvem desenhos a giz de objectos comuns, na parede ou no chão, e as performances são o resultado da interacção do artista com a figura bidimensional. É um artista da rua. Desenha uma mesa de mistura e tenta pôr um disco, desenha uma bicicleta e tenta montá-la... Uma exposição muito interessante de um artista em ascensão.

Mini-site da exposição:

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

2008 Rewind III



TEATRO: Turismo Infinito, de António M. Feijó, a partir de textos de Fernando Pessoa – Teatro Nacional D. Maria II – 11 a 26 de Janeiro de 2008.
Não vou muito ao teatro. É das últimas coisas que penso quando penso em sair, excepto quando é algo que me interesse extraordinariamente. A lógica é: se há Fernando Pessoa – estou imediatamente interessado. Esta peça pretendia espreitar para dentro da cabeça do poeta usando textos, cartas de Pessoa a Ofélia, um cenário disforme, vários actores encarnando os seus heterónimos, tudo para apresentar Fernando Pessoa como um viajante. Nada de extraordinário, mas interessante.

“O que sou essencialmente – por trás das máscaras involuntárias do poeta, do raciocinador e do que mais haja – é dramaturgo. O fenómeno da minha despersonalização instintiva, a que aludi em minha carta anterior, para explicação da existência dos heterónimos, conduz naturalmente a essa definição. Sendo assim, não evoluo: VIAJO. (…) Vou mudando de personalidade, vou (aqui é que pode haver evolução) enriquecendo-me na capacidade de criar personalidades novas, novos tipos de fingir que compreendo o mundo, ou, antes, de fingir que se pode compreendê-lo. Por isso dei essa marcha em mim como comparável, não a uma evolução, mas a uma viagem: não subi de um andar para outro, segui, em planície, de um para outro lugar.”
www.teatro-dmaria.pt/Temporada/detalhe.aspx?idc=1151&ids=16


DANÇA: Masurca Fogo, de Pina Bausch – 2008, Um Festival Pina Bausch – CCB – 7, 8 e 9 de Maio de 2008.
A minha incursão na dança-teatro de Pina Bausch aconteceu com este espectáculo, no CCB.

“Dez anos depois da sua estreia, regressa ao CCB Masurca Fogo, espectáculo criado em Lisboa a partir do olhar de Pina Bausch e dos seus bailarinos sobre a cidade, onde trabalharam durante algumas semanas. Contrastando com a habitual austeridade das produções da coreógrafa, Masurca Fogo é um espectáculo cheio de cor, onde ritmos brasileiros e africanos vêm misturar-se livremente com o fado de Lisboa, num palco plantado à beira-mar.”

www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Danca/Pages/MAZURKAFOGO.aspx

2008 Rewind II

CONCERTO: Foyer Aberto – Opus Beethoven – Integral das Sinfonias de Beethoven para Piano a 4 mãos – Teatro Nacional São Carlos – 3, 10, 17, 24, 31 de Janeiro de 2008. Outras obras em Março, Abril e Maio de 2008.
Foram sessões gratuitas, de cerca de uma hora, no foyer do TNSC, das nove sinfonias de Beethoven transcritas para piano. Estas sessões às quintas-feiras estavam sempre cheias e era preciso chegar meia hora antes para arranjar espaço entre os casacos de peles e os sobretudos a cheirar a naftalina para conseguir ouvir alguma coisa. Em Janeiro e Fevereiro de 2009 também há Foyer Aberto, desta vez à volta do canto lírico, mas duvido que seja tão interessante.
Ilustração de André Carrilho (http://www.andrecarrilho.com/)
http://www.saocarlos.pt/



CONCERTO: Clássicos do Século XX – Música com Comentários Culturgest – 13 de Janeiro, 14 de Fevereiro, 13 de Abril de 2008.
Compositores como Bartók, Berg, Berio, Kagel, e algumas composições novas em estreia por 2,5€ num domingo de manhã. Música difícil num domingo de manhã é possível! Em 2009, houve Música com Comentários a 18 de Janeiro com Arvo Pärt, Berio e Ligeti (um preferido meu) e há mais a 15 de Fevereiro, desta vez sobre Steve Reich (uma descoberta para mim, em 2008).
www.culturgest.pt/actual/programa.html



CONCERTO: Einstürzende Neubauten
– Aula Magna – 4 de Maio de 2008.
Só tive oportunidade de ver os Einstürzende Neubauten, os pais do rock industrial, porque me ofereceram o bilhete. O meu par não pôde ir, por isso resolvi convidar o meu Pai para ir ao concerto, como presente de despedida, antes de o levar ao aeroporto às 6 da manhã do dia seguinte. O que aconteceu a seguir já faz parte da lenda familiar.
O melhor aspecto dos concertos à borla é que as nossas expectativas estão em baixo. Na altura pouco sabia dos Einstürzende Neubauten, apenas que eram uma lenda da música experimental e que vinham apresentar o último álbum, Alles Wieder Offen. O melhor das expectativas em baixo é quando o concerto rebenta com a escala das expectativas. Depois dos 3 encores, o meu Pai gostou tanto do concerto que ficámos a falar da actuação durante horas. Os EN não só se tornaram na minha banda preferida, como me fizeram comprar a discografia integral. O concerto ficou-me caríssimo.
Foto de Pedro Polónio (club-silencio.blogspot.com)
Edit: Mais fotos aqui.

www.neubauten.org/


CONCERTO: TOUMANI DIABATÉ - CCB Fora de Si - CCB - 2 de Agosto de 2008
O mestre da kora, ao vivo no CCB, ao ar livre, numa noite mágica de Verão. Só estando lá. Diabaté, originário do Mali, tocou com banda a acompanhar - mas nem precisava. YouTube

http://www.youtube.com/watch?v=sjPPROl-eGs
http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Festivais/CCBFORADESI/Pages/Toumani-GLOBAL.aspx
Foto: Paul Slaughter (www.slaughterphoto.com/)

2008 Rewind

A melhor maneira de começar um ano é fazer uma retrospectiva do ano anterior, por isso, fiz uma lista das coisas mais interessantes que vi em Lisboa em 2008, de Janeiro a Agosto, cronologicamente – os melhores espectáculos, concertos, e exposições. A música e o cinema ficam para mais tarde.

O meu ano foi assim:



EXPOSIÇÃO: Museu Colecção Berardo
– CCB – todo o ano.
Finalmente, um espaço permanente (até ver) e gratuito (até ver) para a Arte Moderna em Lisboa, e uma colecção de nível internacional. Já não é preciso pagar uma viagem de avião para ver um Bacon, um Picasso ou um Warhol. Todas as exposições novas integradas no museu merecem ser vistas (como a mais recente, de Vieira da Silva), e reorganizam o espólio da colecção de um modo inesperado. Vale mesmo a pena passar por lá regularmente, porque nunca se vê a mesma coisa, e em 2008 fui à Colecção Berardo meia dúzia de vezes.
www.museuberardo.com/

EXPOSIÇÃO: Artes e cultura do Império Russo nas Colecções do Hermitage – De Pedro, O Grande, a Nicolau II – Palácio Nacional da Ajuda – 26 de Outubro 2007 até 17 de Fevereiro de 2008.

Exposição proveniente do Hermitage, um dos maiores museus do mundo, onde podem ser vistas obras de arte nas áreas da pintura, escultura e das artes decorativas, que se estendem do século XVIII ao início do século XX. Quem quiser ver a colecção integral tem de ir a São Petersburgo, ou então ver A Arca Russa (2002), de Aleksandr Sokurov, com muita atenção.



EXPOSIÇÃO: Drawing a Tension – Obras da Colecção do Deutsche Bank – Fundação Calouste Gulbenkian – 3 de Junho a 7 de Setembro de 2008.
“Drawing a Tension reúne uma série de importantes trabalhos modernos e contemporâneos, realizados entre 1922 e a actualidade. Organizada segundo uma estrutura não histórica, a exposição procura afastar-se das classificações tradicionais e desvendar sensibilidades semelhantes em peças (pinturas, esculturas, desenhos, impressões gráficas e fotografias) de diferentes épocas e origens diversas. Através da justaposição de posicionamentos teoricamente contraditórios, pretende-se criar uma tensão que convide os espectadores a compreender a diversidade de práticas artísticas, por vezes niveladas de forma redutora pelo discurso da história da arte” “Os trabalhos têm em comum uma certa auto-reflexividade sobre a própria prática artística, funcionando como metáfora, como desvio, mas também como consolo pelo fenómeno da nossa existência neste mundo. Mas ao colocar trabalhos consagrados em diálogo com outras obras, esta exposição procura também conservar a “urgência” – política, social e intelectual – que esses trabalhos tinham quando foram concebidos inicialmente, evitando que sejam reduzidos a uma imagem esvaziada do passado.” (Jürgen Bock, curador da exposição)

Pela minha parte, foi interessante ver uma exposição com um conceito inovador – um olhar activo e não-convencional perante a história da arte. A pintura que mais me entusiasmou foi o óleo de Gerhard Richter (Kahnfahrt/Passeio de Canoa, 1965).

http://www.gulbenkian.pt/index.phpobject=101&blog=87&secId=88&articleId=702
http://www.gulbenkian.pt/index.php?section=149&artId=49
http://www.db-artmag.de/03/e/thema-achtgrau-zeichnungen.php


VIDEO-ARTE: Ida e Volta: Ficção e Realidade – Centro de Arte Moderna JAP – Fundação Calouste Gulbenkian – de 23 de Novembro de 2007 a 26 de Abril de 2008.
Depois da Exposição do Museu do Chiado, importada do Centro Pompidou, mais dedicada aos clássicos e aos pioneiros da vídeo-arte como Guy Maddin, Chris Marker, Nam June Paike e Stan Douglas, o Centro de Arte Moderna da Gulbenkian organizou uma mostra da vídeo-arte temática e mais focada na última década: Alexandre Estrela, Clemens Von Wedemeyer, Laurent Grasso, Rachel Reupke, Rodney Graham, e um clássico também do cinema: La Jetée de Chris Marker.

www.camjap.gulbenkian.pt/l1/ar%7B69B9E9F5-8F5C-4e21-839A-8CB47E581010%7D/c%7B1cef2d96-c1d9-4407-bbd3-b995



Museu Nacional de Arte Antiga
http://www.mnarteantiga-ipmuseus.pt/

domingo, 18 de janeiro de 2009

Hello, World!

Esta é a primeira mensagem do meu novo blog. Aqui vou apresentar as coisas que mais me entusiasmam em áreas como música, cinema, exposições e tudo o que fizer parte do meu mundo. Vai ser um blog sobre tudo e sobre nada, pode ser sobre coisas importantes, coisas fúteis, coisas que eu acho interessantes de qualquer área.

Terminei o curso de Cinema em 2008, e no começo deste ano decidi começar a fazer algo que fugisse aos filmes e à arte cinematográfica, ao que estive ligado durante uns 4 anos.
O cinema pode ser uma arte de escape e um motivo de encontro, uma arte social e para sociabilizar, mas pode provocar muito isolamento, frustração se for levada demasiado a sério. Para alguém obcecado por cinema como eu, este blog é uma ferramenta de escape para outras coisas que me interessam, como o rock industrial, música de composição contemporânea, electrónica, pintura, videoarte, livros, entre muitas outras coisas. Mas falar sobre cinema vai ser inevitável.

É difícil fazer um blog com relevância, isto é, que se actualize de acordo com o que vai acontecendo no mundo, mas mais que isso, é difícil fazer um blog diferente de todos os outros. Dificilmente farei algo diferente dos outros blogs em termos de música, cinema, ou outra coisa qualquer, mas vai ser o meu blog e vão ser as minhas escolhas.

Ricardo