quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"00's Rewind: Cinema

1. Mulholland Drive (David Lynch | 2001)
2. Memento (Christopher Nolan | 2000)
3. Adaptation (Spike Jonze | 2002)
4. Disponível Para Amar (Wong Kar-Wai | 2000)
5. Russian Ark (Alexander Sokurov | 2002)
6. A.I. Artificial Intelligence (Steven Spielberg | 2001)
7. There Will Be Blood (Paul Thomas Anderson | 2007)
8. The New World (Terrence Malick | 2005)
9. Eternal Sunshine Of The Spotless Mind (Michel Gondry | 2004)
10. Lost In Translation (Sofia Coppola | 2003)
11. Dogville (Lars von Trier | 2002)
12. Inland Empire (David Lynch | 2006)
13. Waking Life (Richard Linklater | 2001)
14. Cidade de Deus (Fernando Meirelles | 2002)
15. Sang sattawat ▪ Syndromes and a Century (Apichatpong Weerasethakul | 2006)
16. Irréversible (Gaspar Noé | 2003)
17. Dancer In The Dark (Lars von Trier | 2000)
18. Synecdoche, New York (Charlie Kaufman | 2008)
19. Requiem For A Dream (Darren Aronofsky | 2000)
20. Donnie Darko (Richard Kelly | 2001)
21. A Viagem de Chihiro (Hayao Miyazaki | 2001)
22. Big Fish (Tim Burton | 2003)
23. Elephant (Gus Van Sant | 2003)
24. 25th Hour (Spike Lee | 2002)
25. Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (Kim Ki-duk | 2003)
26. The Man Who Wasn't There (Joel Coen | 2001)
27. Hunger (Steve McQueen | 2008)
28. The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (Peter Jackson | 2001)
29. The Dreamers (Bernardo Bertolucci | 2003)
30. Al Primo Soffio di Vento (Franco Piavoli | 2002)

Melhor filme português:
O Fantasma (João Pedro Rodrigues | 2000)

E ainda (por ordem cronológica):

Almost Famous (Cameron Crowe | 2000)
Gladiator (Ridley Scott | 2000)
The Price of Milk (Harry Sinclair | 2000)
Suzhou He ▪ Suzhou River (Lou Ye | 2000)
Timecode (Mike Figgis | 2000)
American Psycho (Maria Hanrrow | 2000)
Traffic (Steven Soderbergh | 2000)
Les Glaneurs et la Glaneuse (Agnès Varda | 2000)

Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain (Jean-Pierre Jeunet | 2001)
Moulin Rouge (Baz Luhrmann | 2001)
The Royal Tenenbaums (Wes Anderson | 2001)
Vanilla Sky (Cameron Crowe | 2001)

Y Tu Mama También (Alfonso Cuarón | 2002)
Gerry (Gus Van Sant | 2002)
Ying xiong ▪ Hero (Zhang Yimou | 2002)
Minority Report (Steven Spielberg | 2002)

The Five Obstructions (Jorgen Leth, Lars Von Trier | 2003)
Brown Bunny (Vincent Gallo | 2003)
Kill Bill I, II (Quentin Tarantino | 2003, 2004)

Collateral (Michael Mann | 2004)
El Maquinista (Brad Anderson | 2004)
2046 (Wong Kar-Wai | 2004)

Drawing Restraint 9 (Matthew Barney | 2005)
Caché (Michael Haneke | 2005)
The White Diamond (Werner Herzog | 2005)
Last Days (Gus Van Sant | 2005)
Brick (Brian Johnson | 2005)
Cha No Aji ▪ The Taste of the Tea (Ishii Katsuhito | 2005)
The Proposition (John Hillcoat | 2005)
Munich (Steven Spielberg | 2005)

Old Joy (Kelly Reichardt | 2006)
Children of Men (Alfonso Cuarón | 2006)
The Good German (Steven Soderbergh | 2006)
Hei yan quan ▪ I Don’t Want to Sleep Alone (Tsai Ming-Liang | 2006)
Babel (Alejandro Gonzalez Iñarritu | 2006)

No Country for Old Men (Joel Coen and Ethan Coen | 2007)
Zodiac (David Fincher | 2007)
Nightwatching (Peter Greenaway | 2007)
En La Ciudad de Sylvia (José Luis Guerín | 2007)
The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (Andrew Dominik | 2007)

Låt den rätte komma in ▪ Let the Right One In (Tomas Alfredson | 2008)
Che (Steven Soderbergh | 2008)
Un conte de Noël (Arnaud Desplechin | 2008)
The Dark Night (Christopher Nolan | 2008)
Waltz With Bashir (Ari Folman | 2008)

District 9 (Neill Blomkamp | 2009)
Avatar (James Cameron | 2009)
Public Enemies (Michael Mann | 2009)
Inglorious Basterds (Quentin Tarantino | 2009)
O Laço Branco (Michael Haneke)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"00's Rewind: Videos musicais





















"00's Rewind: Álbuns da década


Radiohead - Kid A

Radiohead - In Rainbows

Aphex Twin - Drukqs

Burial - Burial

Tool - Lateralus

The Mars Volta - Deloused In Comatorium

Scott Walker - The Drift

Sunn O))) - White 2

Alva Noto + Ryuichi Sakamoto - Insen

Bjork - Vespertine

AGF/Delay - Explode

Portishead - Third

Buddha Machine




00's Rewind

O fenómeno mais influente na música da última década? Internet. Mudou tudo - a forma como ouvimos música, a forma como compramos (ou não compramos) música, e principalmente a forma como descobrimos nova música.

Em minha opinião, as maiores diferenças musicais na última década deram-se no domínio da música electrónica. Impôs-se como um género para levar a sério, deixou para trás o rótulo de música de dança e evoluiu para outros domínios, contaminou o rock, a música mais experimental, e atingiu finalmente a maturidade. À cabeça vêm Aphex Twin, Autechre, Radiohead, Bjork, LCD Soundsystem, Portishead, Vladislav Delay - todos usaram a electrónica de uma forma original e revolucionária.

Um dos subgéneros a surgir da nova década foi o Dubstep, com raízes no Grime e Drum 'n Bass. Deu-nos a primeira obra-prima: Burial. É música negra e depressiva da metrópole em câmara lenta.
A música nesta década tornou-se mais depressiva - basta ouvir The Drift, a obra monumental de Scott Walker. O Noise atingiu as massas com Wolf Eyes, e o Drone alastrou-se de mansinho desde o início dos anos 90 até agora, com Earth e Sunn O))) a surgirem com um metal como nunca o tínhamos ouvido, despido de voz (na maior parte das vezes) e de estamina - o som simples e mínimo da guitarra eléctrica, que consegue na mesma ser épico, poderoso, enigmático. Há quem diga que é pós-metal, eu digo: finalmente que o metal cresceu nesta década.
O minimalismo foi transversal a muitas áreas da música: do drone à música de dança. Em minha opinião, os projectos de Alva Noto & Ryuichi Sakamoto foram o exemplo mais acabado do minimalismo nesta década. Mas surgiram exemplos interessantes de Sigur Rós, David Sylvian, entre outros.
O hip-hop e o indie eclipsaram tudo o resto na imprensa especializada e na televisão. Bandas que duram dois anos, músicas que duram semanas... paradoxalmente, o indie transformou-se pouco a pouco em pop e apostou a sua existência no momento, nos hits e nas bandas da moda. Os símbolos foram Arcade Fire e Animal Collective, e a figura do hip-hop foi Jay-Z.

Nesta década, assistiu-se sobretudo à desfragmentação dos géneros - ao mesmo tempo que a divisão teórica da música acelera para os sub-géneros também deixou de haver apenas uma moda, mas várias modas coexistindo. O minimalismo está tão forte como o rock psicadélico.
Já nada é uncool, como refere Brian Eno.
Essa mudança teve muito a ver com a desmaterialização e fácil acessibilidade da música que ofereceu a internet. O In Rainbows de Radiohead, apesar de tardio, foi o símbolo desta viragem.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Lisboa, cidade triste e alegre

Diz quem sabe que este é talvez o melhor livro português de fotografia e um dos melhores álbuns fotográficos do mundo sobre cidades.
Lisboa, cidade triste e alegre (1959) da dupla de fotógrafos Victor Palla e Costa Martins, 50 anos depois um objecto raro de colecção, foi re-editado em Dezembro.

Livro integral em .pdf aqui.
Mais informação em artephotographica.blogspot.com

The Knife: Ópera "Tomorrow in A Year"




Download em theknife.net

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Imagem


Imagem apropriada por Andy Warhol para uma das suas obras da série Death and Disaster (1962-63).

domingo, 10 de janeiro de 2010

Rewind 2009 - Cinema


2009 foi o ano do renascimento da ficção científica com massa cinzenta - District 9, Moon, Avatar e até Watchmen deram-nos um futuro perverso e com muitos efeitos especiais.
O 3D veio para ficar, desta vez.
Quentin Tarantino voltou à forma com Inglourious Basterds e Christoph Waltz deu-nos o papel do ano, ao interpretar o Coronel Landa.
Steven Soderbergh demonstrou ser um workaholic irrecuperável.
Michael Haneke fez um filme magistral sobre a psique das pessoas que nos levaram a duas Guerras Mundiais, em O Laço Branco.
Michael Mann não fez um filme excelente, mas o suficiente para ser o melhor do ano. O uso que fez das imagens digitais confirma-o como o único grande experimentalista da estética digital, em oposição à manipulação através do digital. Para Mann, o digital é um meio para chegar à verdade. Mann trabalha nas antípodas de realizadores como Cameron, que usa o digital para chegar à fantasia do impossível, como se viu no seu último filme, Avatar. Não há aqui uma ponta de crítica, há lugar para tudo isto no cinema.
Mann arrisca, e os seus trabalhos são estudos sobre o fenómeno cidade, sobre profissionais executando a única coisa que sabem fazer e que não conseguem fugir à sua natureza. Para alguns pode ser um filme imperfeito, sem algo concreto ou profundo a dizer... Não para mim.



Public Enemies (Michael Mann)
O Laço Branco (Michael Haneke)
Inglourious Basterds (Quentin Tarantino)
Antichrist (Lars von Trier)
District 9 (Neill Blomkamp)
Avatar (James Cameron)
Petition (Zhao Liang)
The Limits of Control (Jim Jarmusch)
Un Prophète (Jacques Audiard)
Police, Adjective (Corneliu Porumboiu)
Los Abrazos Rotos (Pedro Almodóvar)
A Serious Man (Joel e Ethan Coen)
Breathless (Yang Ik-June)
Tetro (Francis Ford Coppola)
The Informant! (Steven Soderbergh)
The Girlfriend Experience (Steven Soderbergh)
An Education (Lone Scherfig)
Moon (Duncan Jones)
Watchmen (Zach Snyder)
The Road (John Hillcoat)
Where The Wild Things Are (Spike Jonze)
The Hurt Locker (Kathryn Bigelow)
Séraphine (Martin Provost)

Curta:
Arena (João Salaviza)

Vou adicionando, à medida que for vendo mais filmes de 2009.


Festivais
Opinião

Indie Lisboa 2009
Melhor Filme em Competição: Breathless (Yang Ik-June, 2009)
Of Time and The City (Terence Davis, 2008)

Não vi muitos filmes do Indie deste ano. Perdi o Ballast, Wendy and Lucy, Tyson, e muitos outros, mas ver o Breathless compensou tudo isso.


DocLisboa 2009
Melhor Filme em Competição: Petition (Zhao Liang, 2009)
Boatman (1993) + Below Sea Level (Gianfranco Rosi, 2009)
First Love (Krzysztof Kieslowski, 1974)
Thorn in the Heart (Michel Gondry, 2009)
Loin du Vietnam (Godard, Resnais, Varda, Marker, Lelouch, 1967)

Petition é um filme sobre peticionários na China actual, à procura de justiça como último recurso, mas acaba por ser um filme sobre corrupção e um grito pela democracia. Arrecadou o prémio de melhor longa-metragem do festival.
Não consegui ver a retrospectiva de Jonas Mekas (mas já tinha visto algumas das obras mostradas), nem o filme português premiado (Páre, Escute e Olhe, de Jorge Pelicano), nem mesmo o Shirin de Abbas Kiarostami, com muita pena minha.


Estoril Film Festival 2009
Melhor Filme em Competição:
Police, Adjective (Corneliu Porumboiu, 2009)
Il Pianeta Azzurro (1981) + Al Primo Soffio di Vento (Franco Piavoli, 2002)

O Festival do Estoril atingiu a maturidade e trouxe este ano muitos grandes nomes do cinema internacional como Francis Ford Coppola, Juliette Binoche, David Cronenberg, e algumas curiosidades como Franco Piavoli e Cindy Sherman (que foi também júri). De entre os momentos mais interessantes contam-se a ante-estreia de Tetro, em que eu próprio fiz uma pergunta ao Coppola sobre a evolução do digital; a apresentação de Crash pelo próprio Cronenberg, ao qual também tive oportunidade de perguntar sobre as suas influências no domínio das artes plásticas; Víctor Erice apresentando o seu La Morte Rouge; e o visionamento da obra integral de Franco Piavoli, um realizador italiano quase desconhecido do grande público que executa obras de grande onirismo, com um olhar intenso sobre o mundo sem gente, o silêncio e a concertada passagem do tempo.

O grande triunfo do festival foi o de juntar êxitos do cinema popular americano, europeu de grandes autores, e as obras mais pessoais, particulares e extremas de outros autores menos conhecidos do público. As obras de Peter Handke, Robert Frank, cinema Romeno eram mostradas lado a lado com The Girlfriend Experience de Soderbergh e alguns dos nomeados para Cannes, como White Ribbon de Haneke, e Antichrist de Lars von Trier.
Estive presente em quase todos os dias do festival porque havia sempre algo interessante para ver, ainda por cima o passe para o festival custava apenas 20€. Paulo Branco está de parabéns por ter organizado um grande festival.
Ansioso pela próxima edição.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

2009 Rewind - Artes


Esta é uma pintura a acrílico que eu fiz recentemente - uma cópia de um quadro de Piet Mondrian (Composição em preto e branco, com linhas duplas, de 1934), vendido em 2009 por quase 10 milhões de dólares. Vai ser provavelmente a primeira e última vez que farei uma cópia de uma pintura, mas fiquei obcecado com esta peça em particular pela sua simplicidade e elegância, e tive de pintá-la. Depois, provavelmente cometi um sacrilégio, mas rodei-a 90º porque pensei que ficaria melhor, e está neste momento no topo da minha estante de livros.


Melhores exposições
Mude
Arte Moderna em Portugal: De Amadeo a Paula Rêgo (Museu do Chiado)
Fantin Latour (Gulbenkian)
Quick, Quick, Slow (Museu Colecção Berardo)

RIP
Jeanne-Claude
Pina Bausch
Merce Cunningham

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

2009 Rewind - Música



Álbum do Ano
Kurt Vile - Childish Prodigy
Para ouvir na totalidade aqui.

Sun O))) - Monoliths & Dimentions
Lightning Bolt - Earthly Delights
Vladislav Delay - Humma
Ben Frost - By The Throat
The xx - xx
Omar Rodriguez Lopes
(EPs: Megaritual / Despair / Cryptomnesia/ Los Sueños de un Higado / Xenophanes / Solar Gambling)

Álbuns pop
que, por uma razão ou outra, funcionaram para mim este ano:
Girls - Album
Fever Ray - Fever Ray

New Old & Old New:
Sonic Youth - The Eternal
The Dead Weather - Horehound
The Horrors - Primary Colors




Compilações:
Warp 20
5: Five Years of Hyperdub

Bandas Sonoras:
The Limits of Control
Inglorious Basterds

DVD
Alva Noto | Ryuichi Sakamoto - utp_ Live (CD+DVD)
Nirvana - Live at Reading

Reissues:
Nirvana - Bleach
Pearl Jam - Ten
Bauhaus - In The Flat Field / Mask
Nick Cave - From Her To Eternity / Your Funeral... My Trial / Kicking Against The Pricks / The Newborn Is Dead

Concertos
Valery Gergiev / Orquestra do Teatro Marinsky de S. Petersburgo - Coliseu dos Recreios (17 de Janeiro)
Daniel Barenboim / Lawrence Foster / Orquestra Gulbenkian - Coliseu (21 de Setembro)
Steve Reich & Bang on a Can Band - CCB (1 de Novembro)
Gonzales - Culturgest (3 de Novembro)
Nico Muhly, Sam Amidon, Ben Frost, Valgeir Sigurosson - Teatro Maria Matos (5 de Novembro)
Moritz von Oswald Trio - Teatro Maria Matos (25 de Novembro)
B-Fachada + Kurt Vile - Frágil (9 de Dezembro)

Livros sobre música
The Wire: Primers
The Rest is Noise: Listening to the Twentieth Century - Alex Ross

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

The Death of Uncool

"We’re living in a stylistic tropics. There’s a whole generation of people able to access almost anything from almost anywhere, and they don’t have the same localized stylistic sense that my generation grew up with. It’s all alive, all “now,” in an ever-expanding present, be it Hildegard of Bingen or a Bollywood soundtrack. The idea that something is uncool because it’s old or foreign has left the collective consciousness."
Brian Eno

sábado, 21 de novembro de 2009

Quando a Pop quer ser Clássica (VI)

Para terminar a minha selecção de músicos que trabalham nos limites da música popular e clássica, posso referir ainda os exemplos das óperas criadas por grupos como os The Knife ("Darwin"), Nico Muhly (veio dia 5 de Novembro a Lisboa oferecer-nos um grande concerto), o fascínio de Jonny Greenwood dos Radiohead pela tradição clássica do século XX (principalmente Penderecki, Ligeti e Arvo Part) na banda sonora de There Will Be Blood, e os discos avant-garde dos Sonic Youth - SYR4 (Goodbye Twentieth Century) e SYR5 (Olive's Horn), que nos levam a territórios da música improvisada, John Cage, Steve Reich e Cornelius Cardew.
Existem ainda os exemplos bem conhecidos de Faust e Frank Zappa, mas não tenho autoridade para falar sobre nenhum deles.


Steve Reich

Numa entrevista ao Ípsilon de 30 de Outubro semana, Steve Reich fala precisamente sobre este tema:

«
A transversalidade entre a cultura musical popular e erudita sempre foi natural para Reich, que gosta de lembrar o carácter intemporal desta relação. "Se voltarmos atrás na história verificamos que quase todos os grandes compositores clássicos usaram fontes populares. Na Idade Média e no Renascimento, compositores como Dufay e Josquin Desprez recorreram à melodia de ‘L'homme armé', uma canção muito popular na época, como a base para a composição de missas", explica. "No barroco, Bach e tantos outros inspiraram-se em formas de dança [gavotte, sarabande, giga, etc.], Beethoven usou melodias populares na Sexta Sinfonia [canta] e Stravinsky recorreu a materiais da música folclórica russa na Sagração, em Petrouska ou o Pássaro de Fogo. Ele negou mas estava a mentir!", exclama por entre uma gargalhada. "É impossível separar a vertente erudita de Bartók da música dos camponeses húngaros e veja-se o caso Kurt Weill e da música de cabaret ou a relação de Aaron Copland com o jazz", refere. "A influência da cultura popular é comum a quase todos os músicos desde a Idade Média. Um dos que não fez essa escolha foi Schoenberg mas estava errado! Todos sabemos que a música popular não é música clássica. Usa instrumentos e técnicas diferentes e nem costuma usar notação, mas tal como Alban Berg disse uma vez a Gershwin: ‘Música é música!'"
Sublinha que as várias músicas fazem parte do nosso mundo e podem aprender umas com as outras.
"Muitos DJs hoje e pessoas da Dance Music vão buscar coisas à minha obra, às peças dos anos 60 e 70. Quer dizer que aprendem como ela da mesma forma que eu aprendo a ouvir Miles Davis e John Coltrane."
»

Steve Reich apresentou o seu trabalho em Lisboa, no CCB, a 1 de Novembro – um concerto memorável.


A separação entre música popular e música clássica faz cada vez menos sentido actualmente. As próprias classificações não nos parecem correctas nem actualizadas - a música experimental de Laurie Anderson é classificada de música popular, da mesma forma que o industrial de Einsturzende Neubauten e o hip-hop de Jay-Z.
Paralelamente, a música clássica estilhaçou-se no século XX, a começar em Schoenberg e a acabar em Cage e Steve Reich - música clássica ela não é, erudita muito menos.
Nas contínuas e cada vez maiores contaminações entre música clássica e popular, as fronteiras esbateram-se e tornaram-se inseguras (tornaram-se até contraproducentes).
Talvez possamos falar apenas em tradições - tradições sonoras.
No mundo da informação imediata, é possível ouvir com a mesma facilidade o antigo e o moderno. Um músico ou um melómano que oiça com os ouvidos de hoje não pensa no passado propriamente em tempo sequencial, mas como um conjunto de sons à espera de serem re-interpretados e misturados.
A tradição já não é o que era.





sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Quando a Pop quer ser Clássica (V)

Alva Noto + Ryuichi Sakamoto
Insen Live
utp_ Live

Não escondo o meu entusiasmo por este duo que combina o piano com a electrónica minimal. Pela minha parte, foi amor à primeira vista (já falei de Alva Noto e da label raster-noton aqui).
Alva Noto (Carsten Nicolai) manipula digitalmente o som melódico do piano de Ryuichi Sakamoto, pontuando-o com micro-batidas, ruído e white noise de forma minuciosa, como se de uma tapeçaria delicada se tratasse. Dois álbuns, Vrioon de 2002 e Insen de 2005, tornaram-se clássicos instantâneos no momento em que saíram.

Insen Live, o DVD do concerto filmado na Casa da Música (Porto, 2005/6), tem a leveza e preciosidade de um concerto intimista, e a precisão de um concerto clássico. O som em palco, com cores e vibrações projectadas em background, torna-se evocativo e visual, e em certos momentos parece estarmos perante um medium inteiramente diferente – não sabemos se começa em som e acaba em imagem ou o contrário… O som é emotivo (de uma forma nada óbvia) e de uma enorme simplicidade. Todos as notas de Sakamoto e todos os efeitos de Alva parecem necessários e suficientes.

Utp_ foi um concerto comissariado para os 400 anos da cidade de Mannheim (Alemanha) em 2007 (para tornar a história simples, ou talvez não, utp_= utopia). Desta vez, para além de um concerto audiovisual, o duo seguiu um caminho mais experimental e adicionou uma secção de cordas (Ensemble Modern), que ofereceu ao concerto outras “vozes” e mais textura. O registo é mais orquestral, mas também mais fragmentado.

As edições em DVD são elas próprias objectos artísticos, com um design perfeito e atenção ao detalhe.

Mais uma vez a música electrónica encontra a música clássica. O que é música clássica hoje? O que é música popular e música experimental?






domingo, 15 de novembro de 2009

Quando a Pop quer ser Clássica (IV)


London Sinfonietta /
Aphex Twin, Squarepusher

É interessante como a aproximação à música clássica, ou pelo menos à música de composição do séc.XX, chega quase sempre através da música electrónica. Neste álbum, que organiza o conjunto de três concertos interpretados pela London Sinfonietta, a música electrónica de Aphex Twin e Squarepusher (ambos da label Warp) é re-interpretada e colocada lado a lado com peças de Stockhausen, Cage, Reich, Ligeti e Varèse, numa tentativa de colar a nova geração de génios da electrónica à tradição da música avant-garde e erudita do século XX. O ouvinte decidirá. Uma coisa é certa, não é um álbum fácil.
Os arranjos clássicos transformam a electrónica em som "acústico" e mecânico, por vezes deixando para trás parte da complexidade e textura da música electrónica (simplesmente porque são impossíveis de interpretar por seres humanos, mesmo com orquestra).
Trata-se de mostrar que Aphex Twin (Richard D. James) e Squarepusher (Tom Jenkinson) são apenas a última encarnação dos pioneiros da música electrónica. A estes nomes poderia ainda juntar-se Autechre, outro bastião da Warp.

Este artigo da revista Wire mostra as declarações de Stockhausen depois de ouvir a música electrónica e de dança de alguns dos seus precursores, circa 1995, entre eles Aphex Twin. Um documento surpreendente.

Quando a Pop quer ser Clássica (III)



Lou Reed / Zeitkratzer

Lou Reed não precisava de Metal Machine Music para ficar na história da música (um álbum chegava - Velvet Undergound & Nico). Mas em 1975, depois de três álbuns bem sucedidos a solo (Transformer, Berlin, Sally Can't Dance), resolveu fazer um álbum noise que marcou uma divisão na sua carreira - Metal Machine Music (An Electronic Instrumental Composition), que dividiu e divide até hoje a comunidade musical.
Persiste a dúvida se MMM foi uma forma de Lou Reed rescindir o contrato com a label RCA, gravando um álbum o mais inaudível possível para um público habituado a canções como "Walk on the Wild Side", ou se foi, de facto, um poderoso e corajoso manifesto artístico (que se pode considerar precursor do punk, heavy metal ou música industrial, dependendo da perspectiva).
O álbum, dividido em 4 faixas, é abrasivo como uma parede sonora, onde o feedback de guitarra testa os limites do razoável. A textura do ruído parece revelar melodias escondidas, quase psicadélicas - música para o subconsciente.
O que é certo é que muita gente levou o álbum a sério. Grupos como Sonic Youth e Merzbow terão sido influenciados por MMM. Recentemente, Zeitkratzer, um grupo orquestral alemão, transcreveu de forma surpreendente os sons para
11 instrumentos de cordas e gravou um concerto (onde os músicos parecem combater contra o próprio instrumento), que teve a participação de Lou Reed (editado em CD+DVD em 2007).


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Quando a Pop quer ser Clássica (II)


Portishead, originários de Bristol, UK, são dos grupos mais influentes da actualidade, apenas com três albuns, Dummy (1994), Portishead (1997) e, mais de dez anos depois, Third (2008). Em 1998 gravam um álbum ao vivo em Roseland, Nova Iorque, onde combinam o seu som típico de sampling, scratching e guitarras com os mais de 30 elementos da New York Philharmonic Orchestra, o que resulta numa sonoridade urbana, melancólica, quase cinematográfica - ao mesmo tempo nostálgica e futurista.

domingo, 1 de novembro de 2009

Quando a Pop quer ser Clássica

As contaminações música popular com a música clássica não são de agora, mas vou tentar fazer uma compilação das colaborações recentes mais interessantes, numa altura em que a divisão entre música popular e clássica está em crise. Talvez o exemplo mais acabado dessa mistura seja o da islandesa Bjork.


Bjork
Live at Royal Opera House
Live at Cambridge

Não é de espantar que Bjork tenha um olhar tão particular sobre a música. Tal como a maior parte da população da Islândia, Bjork teve uma educação musical clássica. Nos anos 80, também como a maioria dos jovens de Reykjavik, Bjork fez parte de várias bandas de punk-rock (Kulk, Sugarcubes, ...). Essa dualidade entre a tradição e o desejo de afirmação geracional e individual revelou-se desde cedo. Bjork sempre revelou um gosto eclético nas propostas sonoras para cada álbum e, tão importante quanto isso, grande criatividade quando escolhe os instrumentos para apresentar cada álbum ao vivo. Desde a electrónica poderosa de Mark Bell e Leila (concertos do álbum Post e Homogenic), até à kora de Diabaté e aos instrumentos de sopro que usou nos concertos do último álbum, Volta, Bjork revela uma preocupação imensa com o universalismo da música tanto em termos geográficos como temporais. Para Bjork, a kora, na sua especificidade africana, não é inferior à guitarra que toda a gente conhece, e um sintetizador moderno tem tanta importância na música como um intrumento clássico como o violino.

É dentro dessa universalidade da música que Bjork se inscreve - a sua música é ao mesmo tempo clássica, avant-garde, indie e pop.

No concerto de Cambridge, em 1998, Bjork procurou a sonoridade clássica das canções pop de Homogenic, com um quarteto de cordas a acompanhar Mark Bell na electrónica.
No concerto na Royal Opera House de Londres, em 2001, Bjork tentou ir mais longe, e convidou Matmos (um duo de música experimental que produz e manipula sons a partir de objectos comuns), um grupo coral da Gronelândia e uma harpista, para em conjunto recriar o som minimal e muito electrónico do álbum Vespertine. O resultado foi um som delicado e orgânico.
O trabalho de Bjork com John Taverner e a reverência por Arvo Part e Stockhausen vêm reforçar ainda mais a sua proximidade com a música de composição do século XX (e complicar também os termos de separação entre música popular e música clássica).