quarta-feira, 13 de maio de 2009

Descoberta

O vídeo oficial de "Shot In The Back", tema retirado do último álbum de Moby ("Wait for Me" sai a 30 de Junho), e realizado por David Lynch:



David Lynch Foundation Television: dlf.tv
Download em moby.com

quinta-feira, 5 de março de 2009

"Art Is Dead"

Tehching Hsieh é uma quase-lenda do mundo artístico contemporâneo. As suas performances confundem-se com a vida real, são meditações sobre a passagem do tempo e envolvem muitas vezes provações físicas. Hsieh é um artista de Taiwan que emigrou para Nova Iorque na década de 70, onde executou apenas 6 obras/performances, a maioria das quais teve a duração de um ano. Culminaram a 1 de Janeiro de 2000, data a partir da qual deixou permanentemente de fazer arte.
Sabendo como a arte pode ficar perdida na tradução para um objecto artístico (seja ele qual for), e sabendo como a arte é muitas vezes subvertida pelo valor económico do próprio objecto artístico, já para não falar na sua natureza de exclusividade... a obra de Hsieh é um afastamento refrescante da arte dos objectos para se tornar mais próxima do que a arte deve ser: uma dádiva para o mundo. As performances de Hsieh são puras e sem intermediários, são rigorosas, contemplativas, são de uma generosidade incomensurável e de uma dureza exasperante...
A propósito da nova exposição do MoMA, em Nova Iorque.
Tehching Hsieh para sempre.

“In the vibrant downtown Manhattan art scene of the late 1970s and early 1980s, the Taiwanese-American artist Tehching Hsieh made an exceptional series of artworks. Hsieh realized five separate one-year-long performances that were unprecedented in their use of physical difficulty over extreme durations and in their absolute conception of art and life as simultaneous processes.

In the unfolding series of these projects Hsieh moved from a year of solitary confinement without any communication, to a year in which he punched a worker’s time clock in his studio on the hour every hour, to a year spent living without any shelter on the streets, to a year in which he was tied closely to the artist Linda Montano without ever touching and, lastly, to a year of total abstention from art activities and influences. In 1986 Hsieh announced that he would spend the next thirteen years making art but not showing it publicly. This final lifework—an immense act of self-affirmation and self-erasure—came to a close at the turn of the millennium.

For many Hsieh is a cult figure. The rigor and dedication of his art inspires passion, while the elusive and epic nature of his performances generates speculation and mythology. After years of near-invisibility Hsieh has now collaborated with the writer and curator Adrian Heathfield to create this meticulous and visually arresting record of the complete body of his artworks from 1978-1999.”

(http://mitpress.mit.edu/catalog/item/default.asp?ttype=2&tid=11674)

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Nine Inch Nails: The Downward Spiral

Numa altura em que os Nine Inch Nails parecem ser os próximos U2, é difícil lembrar os tempos em que os NIN, isto é, Trent Reznor, fazia álbuns conceptuais e editava trabalhos arriscados, com uma boa dose de experimentalismo e até ousadia. Músicas como Closer, de aparente simplismo mas de grande complexidade psicológica. Depois da espécie de circo que foi o lançamento, nos últimos quatro anos, de Year Zero, Ghosts I-IV e The Slip, com manobras de marketing e álbuns grátis oferecidos na internet à mistura, a rivalizar com os Radiohead, os Nine Inch Nails parecem ter atingido as massas e o respeito do público. Não o meu.

Comecei a interessar-me por NIN depois de The Fragile (1999), e o que mais me impressionava eram os sons de um mundo construído de raiz, cheio de solidão, dureza e paranóia. NIN eram únicos. O som era rock industrial mas era também algo diferente, era o mundo muito pessoal de Trent Reznor. As camadas de sons eram abstractas como a vastidão de paisagens desoladoras criadas a partir da cabeça de alguém perto da demência (em The Fragile, Things Falling Apart); ou a degradação e eventual anulação da identidade (em The Downward Spiral, Further Down The Spiral); a quebra das regras simbolizada no conceito da heresia (em Broken, The Downward Spiral); e o trabalho precursor que simbolizou a chegada do rock industrial ao mainstream – Pretty Hate Machine (1989). The Downward Spiral (1994) é talvez o álbum que resume Nine Inch Nails, e é ao mesmo tempo um dos melhores álbuns de sempre.
Tudo o que estava associado a Trent Reznor era excitante, como a parceria com David Lynch para a produção da banda sonora de Lost Highway, as performances e o trabalho de bastidores com David Bowie, a banda sonora para o vídeo-jogo Quake, a produção dos primeiros álbuns de Marilyn Manson, Twiggy Ramirez, as afinidades com Tool








Espiral Descendente

Parece, portanto, que são tempos que não voltam mais, para o bem e para o mal. Trent Reznor parece interessado em novos desafios, como transformar os concertos em eventos multimédia com tecnologia de ponta (como o último tour norte-americano Nights In The Sky) e em liderar a inovação na distribuição da música a um nível global, sem prejudicar os lucros. Em vez de deixarem a promoção e a maioria dos lucros nas mãos de uma editora, os NIN tomaram as rédeas da sua própria música e começaram a promover formas de o público se envolver com a banda (incluindo um jogo meta-virtual na internet para o lançamento de Year Zero), em vez de usar os antigos mecanismos publicitários. Os novos desenvolvimentos tecnológicos permitem isso mesmo – os gastos de distribuição para comercializar álbuns digitais no próprio site são muito reduzidos; filmar um vídeo musical, e mesmo concertos, deixou de ser dispendioso; os NIN descobriram novas maneiras de fazerem o público interessar-se, como oferecer 400GB de actuações ao vivo do último Tour, livres para serem editadas por qualquer um.

Trent Reznor apercebeu-se apenas de uma nova ideologia de fazer negócios que há algum tempo inunda a internet e não só – a de que é possível oferecer um produto grátis se houver pacotes de valor acrescentado, como edições limitadas, edições especiais assinadas, em que apenas uma fracção dos consumidores (os verdadeiros fãs) paga pela totalidade dos custos do produto, ao mesmo tempo que se mantém toda a gente envolvida e se gera momentum e hype.

Esta nova fase na carreira dos Nine Inch Nails vem na sequência de uma mudança de rumo na vida pessoal de Trent Reznor, que decidiu afastar-se da depressão, drogas, e a atitude auto-destrutiva. Ainda bem que essa mudança aconteceu, mas não se pode dizer que a música tenha saído favorecida.

Estava a brincar quando disse que os NIN parecem ser os próximos U2. Mas parece-me que os NIN deixaram de ser uma banda de nichos para passarem a ser uma marca, e isso à custa da qualidade da música. (Não igual, mas algo remotamente parecido com uns Rolling Stones ou uma Madonna, cuja qualidade musical se confunde e se extingue com a fama e a história da cultura pop). De tal forma, que o modo como os NIN estão a modificar os paradigmas da relação das bandas com o público é mais interessante que a própria música em si, que foi lançada numa sequência de álbuns medíocres (em comparação com trabalho anterior).
Uma coisa muito própria dos nossos tempos, portanto, em que é mais interessante o que está por detrás da cortina do que no palco.



www.nin.com
Wikipedia | Discografia
Music Milestones: 20 Years of Nine Inch Nails

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

sábado, 21 de fevereiro de 2009

OFFF 2009

O OFFF 2009 ("International Festival for the Post-Digital Creation of Culture") vai decorrer em Oeiras a 7, 8 e 9 de Maio. É um evento internacional que já passou por Nova Iorque, Barcelona e Lisboa e junta, anualmente, desde 2001, design, música, eventos multimédia, tecnologia, e tudo o que tenha a ver com artes digitais e cultura visual. Este ano, os convidados principais são os artistas da label Raster-Noton, de que já falei neste blog - Alva Noto, Kangding Ray, Byetone, COH, Frank Bretschneider, entre outros. Vai ser lançada uma compilação especialmente produzida para o evento. Os bilhetes andam à volta dos 85€ para os três dias (portes de envio incluídos), portanto ainda não sei muito bem como vou fazer para poder ir. Há estratégias em discussão, mas nada em concreto. Fica aqui o apelo aos reverenciáveis produtores do evento para não se esquecerem de quem faz publicidade...

www.offf.ws/

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Ubuweb

Depois de uma pausa para pensar que caminho dar ao blog, aqui vai uma referência a um site que me tem dado muitas surpresas. A UBUWEB, um projecto do poeta Americano Kenneth Goldsmith, é uma base de informação especializada em "poesia concreta" e conteúdos áudio e vídeo sobre as vanguardas artísticas desde os primórdios do século XX até hoje. Clássicos do avant-garde, raridades, e em geral conteúdos que não estão disponíveis (nem sequer comercialmente), são disponibilizados aqui livremente – muitas vezes sem permissão – e é possível fazer download quase sempre. Encontrei aqui pérolas como Sorrows de Gregory Markopoulos ou a obra integral magnífica de Maya Deren, (entretanto retirada devido a direitos de autor), Velvet Underground, de Andy Warhol, um documentário de Teshigakara sobre Gaudí, obras de John Cage, vídeos de Nam June-Paik, Richard Serra, Gordon Matta Clark, Brakhage, Michael Snow
Só pela visibilidade que dá a este tipo de trabalhos, a ubuweb faz um serviço tremendo ao público que nunca teria acesso a obras artísticas essenciais que raramente são exibidas devido à sua natureza experimental ou simplesmente por serem underground. Estes registos áudio e vídeo, nem sempre disponíveis com a melhor qualidade, são importantes para compreender a evolução da prática artística e a complexidade da história da arte do século XX.

http://www.ubuweb.com/

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Rewind 2008 IX: Descobertas

Com este segmento, termino a minha revisão de 2008. Espero que as minhas escolhas tenham sido interessantes. Dêem a vossa opinião.
Estas foram algumas das minhas descobertas em 2008:

Steve Reich


YouTube
Documentário sobre Steve Reich:
http://www.youtube.com/watch?v=e_pR1sHHeQU
Wikipedia


Anne Teresa De Keersmaeker


YouTube
Wikipedia


Scott Walker


Mais aqui
Performance: Rosary
Wikipedia


Laurie Anderson


Wikipedia
http://www.ubu.com/sound/anderson.html

-

Rewind 2008 VIII: Discos

Álbuns do ano:



PortisheadThird
Arrependi-me tremendamente de não ter ido ao concerto de Portishead de 27 Março, no Coliseu. Numa altura em que se preparam para lançar novo trabalho em breve (já em 2009), o nome Portishead está a tornar-se rapidamente numa ideia de banda mítica, feita do mesmo material que Radiohead e poucos mais, da qual só se espera evolução e revolução. Third é o disco mais original do ano. É inovador no uso da voz e da electrónica, e um corte em relação aos ambientes solitários, urbano-depressivos de discos anteriores, mais associados com o trip-hop dos anos 90.
Queremos mais.
www.portishead.co.uk/



Toumani Diabaté • The Mandé Variations
Toumani Diabaté é um dos descendentes dos mestres de kora do Mali. Nos últimos anos, Diabaté tem atingido sucessivamente maior fama internacional, e com toda a justiça. Música tradicional que não é tradicional - a kora transforma-se num instrumento moderno. Um disco para re-descobrir a música do Mali e de África. O concerto no CCB, em Agosto de 2008, foi uma revelação (ver Rewind 2008 II).
http://www.myspace.com/toumanidiabate

Nick Cave & The Bad Seeds • Dig!!! Lazarus Dig!!!
Confesso que nunca dei muita atenção a Nick Cave. Quando dei por ele, já ele estava em Let Love In e Nocturama, com referências religiosas despropositadas, que pouco sentido faziam para mim na altura. Depois de ver a interpretação de Nick Cave (com Blixa Bargeld) da música From Her To Eternity, na sequência final em As Asas do Desejo de Wim Wenders, resolvi dar-lhe uma segunda oportunidade. À terceira, e depois de Grinderman, e das bandas sonoras de The Proposition e The Assassination of Jesse James... resolvi que Nick Cave merece ser ouvido e que Dig!!! Lazarus Dig!!! é um dos melhores álbuns de 2008.
http://www.nickcaveandthebadseeds.com/

AGF • Words Are Missing
O álbum Explode (2005), resultante da colaboração de AGF com Vladislav Delay, é, na minha modesta opinião, dos álbuns mais originais desta década e uma obra-prima do minimalismo. O álbum a solo que AGF (Antye Greie) fez a seguir, Words Are Missing, é manipulação de sons (electrónicos) no seu melhor, algo parecido com o mundo sonoro exactamente antes da formação/dicção das palavras. O novo álbum do duo AGF/Delay (marido e mulher) tem data marcada já para Fevereiro de 2009.


Label do ano:

RASTER-NOTON:
Alva Noto • Unitxt
Kangding Ray • Automne Fold
Byetone • Death of a Typographer
Ryogi Ikeda

Alguém me sabe explicar porque é que a melhor música electrónica é sempre feita na Alemanha? A label alemã de música electrónica Raster-Noton, fundada, entre outros, por Carsten Nicolai (Alva Noto) em finais dos anos 90, é das maiores forças impulsionadoras da música electrónica contemporânea, principalmente na área do minimal. Todos os discos têm um design impecável e extremamente económico em termos gráficos; o som é algo entre o experimentalismo, ambientes e as batidas do minimal alemão. Os concertos fundem o DJset com o evento multimédia.
Alva Noto é a força motriz da label, o seu album mais conhecido é provavelmente Insen, a segunda colaboração com Ryuichi Sakamoto (o concerto em DVD do tour Insen foi rodado na Casa da Música, Porto). Cada vez mais artistas se tornam visíveis através da Raster-Noton, como Kangding Ray, Byetone, COH e Frank Bretschneider (basta ver o top da revista Wire), numa label que é uma espécie de sucessora da WARP. A WARP parece ter parado no tempo em termos de música electrónica, para explorar outros caminhos, como o rock indie, e por isso, nomes como Aphex Twin, Squarepusher e Autechre tornaram-se grandes demais e são agora a nova regra que é preciso desregular.




Bandas com história, com álbuns que não fizeram história:
The Mars VoltaThe Bedlam in Goliath
Nine Inch NailsGhosts I-IV + The Slip
Einstürzende NeubautenThe Jewels
Beck • Modern Guilt
Elbow
The Seldom Seen Kid

e ainda:
Earth Hex
Black MountainIn The Future
The Last Shadow PuppetsThe Age Of The Understatement
e as Bandas Sonoras de The Dark Knight, de Hans Zimmer e James Newton Howard, e Waltz With Bashir de Max Richter.

Mais tarde neste blog: Manifesto anti-IndieLixo.

Re-edição do ano:

Miles Davis • Kind of Blue (50th Anniversary)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Rewind 2008 VII: Cinema

TOP 2008

Do pouco cinema que vi o ano passado, estes foram os melhores:

Synecdoche, New York, de Charlie Kaufman
Un Conte de No
e
l, de Arnaud Desplechin
Hunger, de Steve McQueen
The Dark Knight
, de Christopher Nolan
Waltz With Bashir, de Ari Folman
Nightwatching, de Peter Greenaway
Andando, de Hirokazu Koreeda
Happy Go Lucky, de Mike Leigh
Let The Right One In, de Thomas Alfredson
Il Divo, de Paolo Sorrentino
Che, de Steven Soderbergh

Irei adicionar mais títulos à medida que for vendo outros filmes de 2008 que estejam acima da média.
Não fui muito ao cinema em 2008, mas parece que escolhi o ano certo para não ver filmes, porque 2008 foi um ano para esquecer. David Fincher, completamente em contra-natura, deu-nos um dramalhão histórico, com The Curious Case of Benjamin Button; Wall-E foi uma oportunidade perdida para se fazer ficção científica verdadeiramente original; Wong Kar-Wai ficou lost in translation na América, com My Blueberry Nights; Spielberg violou Indiana Jones (sim, isso mesmo); e os melhores filmes que vi em 2008 não são de 2008.

Como em Portugal os filmes chegam às salas 3 meses atrasados (e às vezes muito mais) em relação à data oficial, acontece por vezes estarmos a discutir filmes que, de facto, têm mais que um ano. Por isso, aqui vai um top dos filmes de 2007, já que muitos deles estrearam em 2008 no nosso país:

01. There Will Be Blood (Paul Thomas Anderson)
02. No Country for Old Men (Joel Coen e Ethan Coen)
03. Zodiac (David Fincher)
04. Paranoid Park (Gus Van Sant)
05. Control (Anton Corbjin)
06. The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford (Andrew Dominik)
07. En La Ciudad de Sylvia (José Luis Guerín)
08. Atonement (Joe Wright)
09. 4 Luni, 3 Saptamani si 2 Zile
4 Meses, 3 Semanas, 2 Dias (Cristian Mungiu)
10. Le Scaphandre et le Papillon
O Escafandro e a Borboleta (Julian Schnabel)
11. Se, Jie ▪ Sedução, Conspiração (Ang Lee)
12. Youth Without Youth (Francis Ford Coppola)
13. The Silence Before Bach (Pere Portabella)
14. Le Voyage du Ballon Rouge
O Vôo do Balão Vermelho (Hou Hsiao-Hsien)
15. The Hoax (Lasse Hallström)
16. Dear Wendy (Thomas Vinterberg)
17. Chansons d’Amour (Christophe Honoré)
18. Sunshine (Danny Boyle)
19. Persepolis (Marjane Satrapi & Vincent Paronnaud)
20. Taxidermia (György Pálfi)



BFI + Michael Snow
Como qualquer cinéfilo que se preze, quando estive em Londres passei pelo BFI (British Film Institute), o equivalente à nossa cinemateca, mas sem o pretensiosismo do Bénard da Costa. Consegui assistir a várias obras de Michael Snow, incluindo uma exposição de vídeo-arte dedicada ao realizador Canadiano e uma masterclass organizada pelo BFI, tudo integrado num ciclo que se prolongou até Janeiro.

Há mais de Snow para além de Wavelength. Para além de toda a informação sobre o desenvolvimento da obra de Michael Snow e o que faz dela única – houve projecção e comentário das primeiras obras – fiquei a saber que Snow adora contar histórias. Principalmente aquelas que têm a ver com as circunstâncias em que as suas obras aconteceram. Ficámos a saber, por exemplo, que não havia grande troca de ideias entre os autores do cinema artístico nova-iorquino (como Andy Warhol) e os autores de cinema experimental ou avant-garde, da geração de Michael Snow, Maya Deren e Brakhage, por exemplo, apesar de todos trabalharem no mesmo medium e na mesma cidade. Acho, no entanto, que muitas das preocupações artísticas de ambos os grupos coincidem. Ao que parece, e pela boca de Michael Snow, os dois grupos foram evoluindo mais ou menos independentemente, com poucos pontos de contacto. Um deles foi na mostra da primeira curta metragem de Snow, quando de entre uma chuva de assobios, Andy Warhol pediu para falar com o autor, porque o filme era “fantástico”!

Para além do realizador, falou-se de Michael Snow o artista multidisciplinar – a pintura, escultura, fotografia – ele que até começou como músico de Jazz. Mas quando interrogado sobre a unificação da sua obra dos diferentes media, Snow oscila entre o silêncio, a ironia e a evasão à pergunta...

http://www.bfi.org.uk/
http://www.bfi.org.uk/whatson/michael_snow_in_conversation_0
http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Snow




INDIE LISBOA ‘08 – 5º Festival Internacional de Cinema Independente – Cinemas Londres, S. Jorge, Fórum Lisboa, Teatro Maria Matos – de 24 de Abril a 4 de Maio de 2008.
Toda a gente já sabe tudo sobre o Indie Lisboa. Como sempre, só vi metade dos filmes que queria ver porque Lisboa inteira decidiu atolhar as salas e ver as últimas aberrações do cinema, filmes que nem de graça veriam em casa. Não é por gosto, é fascínio mórbido. Ou então é por hedonismo e vontade de estar in, ainda não tenho a certeza.
O cartaz de 2008 não foi tão bom como o de 2007, mas a organização parece estar cada vez melhor. Uma característica que à partida seria um ponto negativo – o festival decorrer em pontos separados da cidade – tornou-se um conceito interessante e uma oportunidade para os estrangeiros verem cinema e conhecerem Lisboa ao mesmo tempo. E um motivo para o resto das pessoas andar uns kilómetros a pé e chegar às sessões à conta…

Os melhores filmes que vi no Indie Lisboa 2008:

En La Ciudad de Sylvia (2007), de José Luis Guerín
(3 de Maio, 21:45)
The Silence Before Bach (2007), de Pere Portabella
(27 de Abril, 21:15)
Import Export (2007), de Ulrich Seidl
(28 de Abril, 19:00)
Four by (2008), de Lukas Maximilian, curta-metragem
(27 de Abril, 19:45)

Um dos bons momentos foi a masterclass de Johnny To (Herói Independente 2008) no Maxime.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

2008 Rewind VI

Mais música:
CONCERTO: LONDRES: MICHAEL VAN DER AA - Mask, Here [In Circles] - Southbank Centre - 9 de Outubro de 2008
Michael van der Aa (MySpace) é um jovem compositor holandês que apresentou dia 9 de Outubro, no Southbank Centre, as obras Mask e Here [In Circles] (substituída à ultima da hora), integrado no ciclo Music of Today. Som novo! Vou deixar que alguém descreva a música por mim, porque eu não consigo:

“The Dutch Michel van der Aa is one of the most exciting younger composers anywhere, active in both concert music and multi-media. The music is unflinchingly clear, hard-edged, sharply profiled and rhythmically agile. Both works heard in this opening Music of Today concert combine instruments with technology to decidedly unexpected and sometimes ironic effect.”

Outra descrição:
"Michel van der Aa writes music that is similar in its effect to photography… music as an art of time is detached from time itself, and sounds become snapshots of a process. Potential developments are immediately blocked by interruptions, flashbacks, unexpected repetitions. The doubling of music through an electronic shadow creates a kind of multiple exposure… the impression of the music is strong and emotionally draining." Berliner Zeitung

As duas peças não foram particularmente difíceis, o que não quer dizer que não me tenham passado igualmente ao lado. Mas é agradável ver alguém tão novo como Michael Van Der Aa a compor. Quando imagino compositores modernos (como Stravinsky, Ligeti), imagino velhos sábios a ensaiar orquestras de forma implacável, nunca penso propriamente que eles foram jovens e já compunham na altura. Pelo menos, é agradável ver alguém reconhecido pela sua obra antes de ser septuagenário.
Na apresentação do concerto, Michael van der Aa revelou o seu interesse pelas artes performativas e pelo cinema, e de como integra esses aspectos na sua forma particular de escrever música. Melhor que tudo, revelou a preparação de um novo trabalho baseado no Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, um nome que cada vez mais se ouve falar e que parece estar na moda no mundo artístico (digo eu). A estreia da obra de música-teatro (e multimédia) The Book of Disquiet foi a 2 de Janeiro, em Linz, Áustria (capital Europeia da cultura), com Klaus Maria Brandauer, a fadista Ana Moura e João Reis (o mesmo actor que interpretou Pessoa na peça Turismo Infinito, no D. Maria II). Ao que parece, a peça foi muito bem sucedida. Segundo o site do compositor, novas apresentações da peça estão planeadas para a Holanda e Portugal para o final do ano, portanto resta-nos esperar. Crítica da estreia aqui.



Fernando Pessoa traduzido para inglês fica assim:

From The Book of Disquiet:

"Today, feeling almost physically ill because of that age-old anxiety which sometimes wells up, I ate and drank rather less than usual in the first-floor dining room of the restaurant responsible for perpetuating my existence. And as I was leaving, the waiter, having noted that the bottle of wine was still half full, turned to me andsaid: ‘So long, Senor Soares, and I hope you feel better.’"

"My favourite dream, where I'm a retired major in a small-town hotel, hanging on after dinner - the lingering major, sitting there for no reason."

"And I began, all by myself, to make paper boats with the lie they'd given me. No one would believe in me, not even as a liar, and there was no lake where I could try out my truth."

"Useless landscapes like those that circumscribe Chinese teacups, starting out from the handle and abruptly ending at the handle. The cups are always too small...Where would the landscape continue if it could continue past the teacup handle?”

"I used to hear the sound of scales played on a piano, the monotonous practicing of a girl I never actually saw...And with the relentlessness that comes from the world's depths, with a persistence that strikes the keys metaphysically, the scales of a piano student keep playing over and over, up and down the physical backbone of my memory."

"I throw an empty matchbox towards the abyss that's the street beyond the sill of my high window without balcony."

Fotos: www.doublea.net
http://www.boosey.com/cr/news/Michel-van-der-Aa-Music-of-Today-premieres-in-London/11674
http://www.doublea.net/work_info/w_disquiet.html


EXPO/CONCERTO: LONDRES: Felix’s Machines + Leila Arab + Paul Davis – Gasworks Gallery – 19 de Dezembro de 2008
Felix’s Machines é a exposição apresentada por uma pequena galeria em Vauxhall de uma obra techno-artesanal de Felix Thorn. O conceito é simples: uma máquina de tocar instrumentos (essencialmente de percussão e xilofone), programável através de computador. À medida que a máquina toca, são accionadas pequenas luzes que sinalizam a proveniência do som, e o espectáculo sonoro torna-se visual também. A música que esteve em mostra parecia algo saído de um novo álbum da WARP, com batidas concertadas, muito rápidas, próximo da música electrónica (IDM/braindance) desenvolvida por Aphex Twin. É por isso apropriado que Leila Arab, uma manipuladora de sons que já trabalhou com Björk, gravou com a Rephlex, e lançou em 2008 pela WARP o álbum Blood, Looms, and Blooms, tenha sido convidada para actuar na festa da exposição. Paul Davis também apresentou um DJ set (com um som mais urbano), mas passou-me despercebido comparado com Leila, que alternou entre a spoken-word, noise, e samples desde Erik Satie a Aphex Twin, tudo com um apurado sentido musical. Foi um DJ set monumental.



Fui à exposição/concerto sem saber quem era Leila Arab. Só quando a vi a preparar-se para actuar é que me apercebi que já a tinha visto em grande performance, ao lado de Björk num concerto de 1997, Live at Shepherd’s Bush Empire, em DVD - numa altura em que parecia que Björk se ia passar para o lado do techno-industrial. Alguém me sabe dizer o que se passa no final desta música? (YouTube)



Mais importante, Eileen Simpson e Ben White fizeram mais tarde uma performance (a 19 de Dezembro, mas a que eu não assisti) com música original baseada na sonoridade das caixas de música do séc. XIX, e também música especialmente composta para Felix’s Machines, desta vez já com Felix Thorn, e mais parecida com o trabalho minimalista de Steve Reich. Ao conjunto deu-se o nome Perforations. É de copyright livre e pode ser adquirido aqui.
Foto: Gasworks Gallery
http://www.gasworks.org.uk/exhibitions/detail.php?id=403
http://www.youtube.com/watch?v=4CdA-ivDj8o



CONCERTO: London Symphonic Orchestra – BÉLA BARTÓK – Concerto para cordas, percussão e celesta + JOHANNES BRAHMS + AUGUSTA R. THOMAS – Barbican Centre – 14 de Dezembro de 2008
Aliada a imagens sugestivas, a música de Bartók fez de Shining, de Stanley Kubrick, o filme assustador que é, e colou-se ao filme da mesma forma que Assim Falava Zaratustra, de Richard Strauss, se colou a 2001: Odisseia no Espaço e às nossas memórias colectivas. Dia 14 de Dezembro fui ver e ouvir a peça “Música para cordas, percussão e celesta” de Béla Bartók no Barbican Centre, tocada pela LSO, numa casa metade cheia, e devo dizer que foi tão poderoso que cheguei a casa e tive de ouvir várias vezes o segundo movimento porque não me saía da cabeça. Quanto aos críticos, nem tanto (notícia, aqui). O piano e a harpa, instrumentos extremamente melódicos, são usados nesta peça quase como instrumentos de percussão. A peça tem uma energia imensa, e os sons dos instrumentos vão-se transfigurando uns nos outros constantemente. Aqui está um excelente exemplo desta obra de Bartók, conduzida por Christoph von Dohnányi (YouTube):



Esta foi uma sessão em que também teve lugar a estreia mundial de Helios Coros II, a segunda parte de um bailado ainda por terminar de Augusta Read Thomas, de quem eu nunca ouvi falar, mas ao que parece é uma das compositoras americanas mais interessantes da actualidade. Numa sessão uma hora antes do concerto, Augusta Thomas (uma mulher de 40 anos muito expansiva e sorridente) explicou o seu percurso e a sua obra mais recente. Mas a peça musical não teve grande impacto, talvez precisamente por ser parte de uma peça de bailado - que ainda não vimos - e por ser a segunda parte de um bailado cuja primeira parte também não ouvimos, portanto não me culpo demasiado. Mas ficou a ideia de grande leveza, uma música que nunca se repete, transforma-se sempre.
Tocou-se ainda o Concerto para Piano N.º1 de Brahms – o seu primeiro trabalho orquestral.

http://lso.co.uk/home/

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

2008 Rewind V

Mais de Londres:


National Gallery
http://www.nationalgallery.org.uk/
Ver pela primeira vez os Girassóis de Van Gogh ou as pinturas de Leornardo da Vinci são coisas que não se esquecem. Só visto.

British Museum
http://www.britishmuseum.org/
Para além da colecção lendária do British Museum, uma exposição de gravuras japonesas, e ainda Statuephilia, uma exposição de esculturas de artistas contemporâneos como Damien Hirst, Antony Gormley e Mark Quinn (que mostrou Siren, uma escultura a ouro de Kate Moss numa posição avançada de yoga).





EXPOSIÇÃO: LONDRES: The Revolution Continues: NEW CHINESE ART – Saatchi Gallery – 9 de Outubro de 2008 a 18 de Janeiro de 2009
O novo edifício da Saatchi Gallery, em Chelsea, abriu portas com esta mostra de nova arte chinesa. Foram precisos três pisos para mostrar grande parte do espólio. As obras pertencem a uma geração de artistas que olha a China com um olhar crítico e politicamente independente. A relação da China com o ocidente, a eterna influência de Mao e a modificação da paisagem económica e cultural são os grandes temas da exposição.
As minhas obras favoritas foram a instalação de Sun Yuan e Peng Yu (que mostra líderes mundiais envelhecidos, em cadeiras de rodas), as obras de cinza de Zhang Huan, as pinturas de Yue Minjun, Zhang Xiaogang, e a escultura de Zheng Guogu (Waterfall, 2003).
No meu entender, a arte no Ocidente foi perdendo um dos factores que a tornam importante - ser um olhar crítico do mundo em que se vive hoje, o Presente. Falta mais arte "política", talvez. É por isso que a nova arte chinesa é tão importante. Parece-me que o desenvolvimento da história da arte Ocidental, ao questionar-se constantemente a si mesma e ao conceito de obra de arte, perdeu o rumo, está às voltas sobre si própria e não olha para fora. Em vez de uma arte virada para o futuro, temos Jeff Koons e Damien Hirst. Parece que o 11 de Setembro nunca aconteceu. A arte do século XXI, e dos novos artistas dos anos 90 até agora, pelo que conheço, é apenas mais um reflexo do resto da cultura estratificada, pluri-ideológica (ou anti-ideológica), niilista e materialista, em vez de ser a impulsionadora de uma nova vaga, ou de uma nova forma de pensamento moderno. Estamos neste limbo que é o pós-modernismo, e que parece não ter fim.
Talvez o tempo das vagas tenha acabado. Os artistas do novo século resistem a pertencer a qualquer forma de dictame, só se pertencem a eles mesmos. Talvez seja esse o caminho certo - a verdadeira arte global e multicultural - mas ainda não chegámos lá.
Fotos: Saatchi Gallery.


http://www.saatchi-gallery.co.uk/artists/new_art_from-china.htm
Flickr: http://www.flickr.com/search/?q=saatchi%20chinese%20art&w=all
Video: http://www.youtube.com/watch?v=SpQ66pcb81s







EXPOSIÇÃO: LONDRES: LUCIAN FREUD - Early works 1940-1958 – Hazzlit Holland-Hibbert Gallery – 9 de Outubro a 12 de Dezembro de 2008
As primeiras obras de Lucian Freud, algumas feitas com apenas 17 anos de idade, são de uma sensibilidade palpável. A dimensionalidade das figuras faz com que as pinturas pareçam feitas de papel dobrado e tenham uma enorme leveza. Foi interessante conhecer as primeiras obras de Freud, contemporâneo de Francis Bacon, antes de as suas obras atingirem recordes nos leilões, e de se tornar num dos grandes retratistas contemporâneos.
Fotos: HHH.

www.hh-h.com/
Press release: http://www.hh-h.com/documents/LucianFreudPR.pdf





EXPOSIÇÃO: LONDRES: RICHARD SERRA – Sculpture – Gagosian Gallery – Brittannia St. – 4 de Outubro a 20 de Dezembro de 2008
Richard Serra é o maior nome da escultura contemporânea. As suas obras questionam o espaço, a vivência do espaço, e a própria escultura. Esta exposição foi o meu primeiro contacto com o escultor, com obras que deixam que o visitante entre nelas e as percorra literalmente. As esculturas são folhas monumentais de metal ferrugento. Open ended (2007-2008) é uma enorme folha de metal que se fecha sobre si própria como se fosse uma flor. Há mesmo uma escultura com o nome Fernando Pessoa: uma barra de metal espessa, estendida na horizontal. Richard Serra fala sobre a sua nova exposição na Gagosian Gallery, sobre Portugal, sobre Fernando Pessoa e sobre o estado da arte aqui.

http://www.gagosian.com/exhibitions/2008-10-04_richard-serra_1/
http://artobserved.com/go-see-richard-serra-sculpture-at-gagosian-gallery-london-through-december-20-2008/





Outras exposições:

Portrait Gallery
http://www.npg.org.uk/
Para além da colecção permanente, tive oportunidade de ver uma nova colecção fotográfica e dois óleos (retratos) belíssimos de Paula Rego.

Royal Academy of Arts
www.royalacademy.org.uk
Vi aqui a Pequena Dançarina de Edgar Degas, antes de ser posta à venda na Sotheby’s, que também visitei. Notícia aqui.

Victoria & Albert Museum
www.vam.ac.uk/
Aqui, vi A Grande Onda, de Hokusai (a mais conhecida impressão japonesa) a ser reproduzida tradicionalmente (quatro vezes), ao vivo, por um mestre japonês.

Serpentine Gallery – GERHARD RICHTER – 4900 Colours
As novas obras de Gerhard Richter na Serpentine, uma galeria projectada por Frank Gehry e situada dentro do Hyde Park. A série de quadros pixelizados, com cores espalhadas aleatoriamente, com o nome 4900 Colours, valem mais pela continuidade da obra de Richter, que pelo seu valor intrínseco.
http://www.serpentinegallery.org/2008/06/gerhard_richter4900_colours_ve.html

Lisson Gallery – Fernando Ortega
http://www.lissongallery.com/#/exhibitions/2008-11-26_fernando-ortega/

Barbican Centre – Rafael Lozano-Hemmer – Frequency and Volume http://www.barbican.org.uk/artgallery/event-detail.asp?id=7879

domingo, 25 de janeiro de 2009

2008 Rewind IV

Para alguém falido como eu, a melhor maneira de estar exposto às coisas mais interessantes possíveis por metro quadrado, no menor intervalo de tempo possível, e ao menor custo, é marcar uma viagem a Londres em época baixa. Aproveito a minha viagem a Londres de Setembro a Dezembro para acabar de fazer o balanço das coisas mais interessantes que vi em 2008, pelo menos em termos de música, cinema e artes plásticas.




EXPOSIÇÃO: LONDRES: TATE Modern + ROTHKO – 26 de Setembro a 1 de Fevereiro de 2009
O Tate Modern é um edifício magnífico, construído há pouco tempo mas sem parecer futurista, como a maioria dos novos museus de arte contemporânea. A exposição permanente foi a melhor exposição de arte contemporânea que vi até hoje (gratuita), mas a exposição especial (£12.5) da obra do Rothko foi uma desilusão por ser tão pouco representativa do percurso do pintor (em direcção ao abstraccionismo/minimalismo).
Eram à volta de 15 telas enormes em tons de preto, castanho e vermelho, em quase todas as combinações possíveis, dispostas num espaço relativamente pequeno de três salas. Pareceu-me que os quadros não foram suficientemente iluminados e não consegui ficar deslumbrado pela presença das telas, como esperava, nem ver bem a complexidade da textura da tinta ou as camadas de cor. Foi-me prometida uma experiência religiosa, mas nada aconteceu. As telas mais impressionantes foram as de negro sobre negro, e foram também o mais próximo que estive de uma epifania, mas os crentes eram tantos que era impossível estar sentado a ver uma pintura em paz e sossego. No final, como a compensar, comprei um azulejo (pintado a emular a técnica de Rothko) na loja do Tate.
Aparte tudo isto, não desisti nem de Rothko nem de ver uma grande exposição da obra dele.

Fotos: Tate
Mais informação e exposição virtual em:
http://www.tate.org.uk/modern/exhibitions/markrothko/default.shtm
Flickr:
http://flickr.com/search/?q=rothko+tate+modern&m=text





EXPOSIÇÃO: LONDRES: TATE Britain + FRANCIS BACON + Turner Prize 2008 – 11 de Setembro de 2008 a 4 de Janeiro de 2009

O Tate Britain é o irmão mais velho do Tate Modern, um explora a arte dos séculos XIX e XX (uma colecção belíssima), o outro explora as vanguardas do século XX e a arte contemporânea. A ligá-los está uma viagem de barco pelo Tamisa. Exposições de artistas da dimensão de Rothko e Bacon surgiram ao mesmo tempo nos dois museus, como que a chamar à atenção para a disparidade de expressão da arte moderna.
Desde que cheguei a Londres que queria ver a exposição do Francis Bacon, a mais completa até hoje, ao que parece, na altura do centenário do seu nascimento. Havia publicidade no metro, nos jornais e na rua. Bacon é uma das referências da arte do pós-guerra. Deu um novo fôlego à pintura e ao figurativismo quando se pensava que um e outro tinham os dias contados, numa altura em que a instalação, fotografia, vídeo art e a land art começavam a criar interesse.

Não vou fingir que sou o maior especialista em arte contemporânea (a minha área, antes de cinema, foi científica), mas Bacon é o meu pintor favorito, por isso vou ser o mais poético/lírico possível, até ao limite do suportável. Os quadros são intensos e as cores são fortes, há corpos em revolução num fundo negro, animais em movimento, abismo e morte, angústia, solidão, crucificações, por vezes tudo no mesmo quadro. Corpos humanos são, na verdade, carcaças em potência, e os seus movimentos, animalescos. São um olhar penetrante até à essência humana e à dor de viver do homem moderno. A violência do real é quase inacreditável, completamente insuportável. É o tipo de imagem que fez Lynch ser linchiano.



Foi agradável ver tantos quadros tão bons no mesmo sítio. Havia gente a mais e tempo a menos, como tudo em Londres. Gostava de ter visto os quadros mais uma vez.
A exposição foi exaustiva e mais educativa do que a do Rothko, no Tate Modern. Houve espaço para esquissos, livros, fotografias (maltratadas pelo estúdio que ficou lendário pela sua desarrumação) coleccionadas por Bacon e nas quais se baseava para as suas obras. Algumas fotografias, retiradas de livros, revistas, filmes, são muito esclarecedoras quanto ao modo como se transfiguraram em pintura, e de repente é fácil perceber o que move Francis Bacon. Bacon era claramente um artista da quarta dimensão, isto é, do movimento e da verdade que lhe era revelada no puro instante da fotografia – os seus quadros, mais reais que o real.

"I think that man now realizes that he is an accident, that he is a completely futile being, that he has to play out the game without reason". Francis Bacon

Mais informação e exposição virtual em:
http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/francisbacon/
Flickr:
http://flickr.com/search/?q=francis+bacon+tate+britain&m=text
Documentário sobre Francis Bacon:
http://www.ubu.com/film/bacon.html


Também no Tate Britain, esteve a exposição colectiva Turner Prize 2008. O Turner Prize é um prémio anual de arte contemporânea para os novos artistas britânicos que produziram o percurso mais interessante. Este ano o vídeo esteve em força, quase todos os participantes o utilizaram. Nota-se uma mudança de paradigma nos materiais utilizados, no discurso, na forma de comunicar com o público, no modo de fazer arte – mas nada de radicalmente novo é dito. Este ano os artistas presentes foram Runa Islam, Mark Leckey, Goshka Macuga e Cathy Wilkes. Mark Leckey acabou por ganhar o Turner Prize 2008, pelas exposições Industrial Light & Magic e Resident.
http://www.tate.org.uk/britain/turnerprize/turnerprize2008/

Simultaneamente, no corredor central do museu, um projecto de Martin Creed (Turner Prize de 2001) pôs pessoas a correr pela galeria a cada 30 segundos. (algo parecido com o que acontece no Louvre em Band à Part (1964), de Jean-Luc Godard)
http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/duveenscommission/default.shtm





EXPOSIÇÃO: LONDRES: ANDY WARHOL: Other Voices, Other Rooms + ROBIN RHODE: Who Saw Who – The Hayward Gallery / Sounthbank Centre – 7 de Outubro de 2008 a 18 de Janeiro de 2009
Adoro Andy Warhol. Gostar da maioria dos grandes pintores do pós-guerra pode parecer uma contradição, porque são todos tão diferentes (Warhol rompeu com a tradição artística que Pollock desenvolveu, por exemplo, apesar de eu gostar de ambos), e grande parte deles desenvolveu obras que romperam com o passado à sua maneira (criaram ramificações na história da arte por serem tão pessoais). Quase todos também se interrogaram sobre o que faz uma obra de arte ser uma obra de arte, algo que continua nos dias de hoje. Artistas como Pollock, Rothko, Bacon, Warhol, e mais recentemente, Richter.

É preciso notar que o meu interesse pelas artes plásticas é puramente amadora. O meu percurso não foi artístico, apenas tento ver o máximo de arte possível; gosto do que gosto e tento perceber porquê.
Warhol fez-me gostar de arte, e questionar-me sobre a prática e o objecto artístico. Gostei imediatamente da sua irreverência intelectual. Warhol era sobretudo um artista das ideias. As pinturas/impressões são simples mas os conceitos são complexos. Os filmes de Warhol são, para mim, especialmente poderosos e inovadores. Eat, Sleep, Empire, e a maioria dos seus filmes mudos a preto e branco, são meditações sobre o tempo, o ser, “acting” e “non-acting”, e sobre a própria imagem em movimento. É como olhar pela primeira vez para alguma coisa. É refazer a história do cinema.



Esta exposição, na Hayward Gallery, foi precisamente sobre os filmes de Andy Warhol, incluindo alguns dos famosos “screen tests”, o trabalho televisivo para a Warhol TV, e arquivos vídeo sobre a Factory. A filmografia mais importante estava toda numa única sala enorme, a ser projectada simultaneamente em vários ecrãs, com som localizado (quando existia). Foi interessante para quem queria encontrar um estilo comum, se é que ele existe, na obra cinematográfica de Warhol, ou ter noção da sua variedade, mas frustrante para quem queira conhecer a obra a fundo, porque era impossível ver tudo (Chelsea Girls demora cerca de 3 horas, por exemplo). Em exposição, havia ainda desenho, livros, capas de discos, revistas, e toda a espécie de documentos que Warhol juntou obsessivamente ao longo da vida. Uma exposição ambiciosa, mas sem o espaço necessário (que precisa de ser repensado) para dar a conhecer a imensidão de arte e informação que contém.

Mini-site da exposição:
http://www.southbankcentre.co.uk/minisite/andy-warhol
Flickr:
http://www.flickr.com/search/?s=int&q=Hayward+Andy+Warhol&m=text
Documentário sobre o cinema de Warhol:
http://www.ubu.com/film/warhol.html



Também na Hayward Gallery, Robin Rhode: Who Saw Who. Robin Rhode é um artista contemporâneo sediado em Berlim, que trabalha no domínio da performance. Muitos dos seus trabalhos envolvem desenhos a giz de objectos comuns, na parede ou no chão, e as performances são o resultado da interacção do artista com a figura bidimensional. É um artista da rua. Desenha uma mesa de mistura e tenta pôr um disco, desenha uma bicicleta e tenta montá-la... Uma exposição muito interessante de um artista em ascensão.

Mini-site da exposição:

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

2008 Rewind III



TEATRO: Turismo Infinito, de António M. Feijó, a partir de textos de Fernando Pessoa – Teatro Nacional D. Maria II – 11 a 26 de Janeiro de 2008.
Não vou muito ao teatro. É das últimas coisas que penso quando penso em sair, excepto quando é algo que me interesse extraordinariamente. A lógica é: se há Fernando Pessoa – estou imediatamente interessado. Esta peça pretendia espreitar para dentro da cabeça do poeta usando textos, cartas de Pessoa a Ofélia, um cenário disforme, vários actores encarnando os seus heterónimos, tudo para apresentar Fernando Pessoa como um viajante. Nada de extraordinário, mas interessante.

“O que sou essencialmente – por trás das máscaras involuntárias do poeta, do raciocinador e do que mais haja – é dramaturgo. O fenómeno da minha despersonalização instintiva, a que aludi em minha carta anterior, para explicação da existência dos heterónimos, conduz naturalmente a essa definição. Sendo assim, não evoluo: VIAJO. (…) Vou mudando de personalidade, vou (aqui é que pode haver evolução) enriquecendo-me na capacidade de criar personalidades novas, novos tipos de fingir que compreendo o mundo, ou, antes, de fingir que se pode compreendê-lo. Por isso dei essa marcha em mim como comparável, não a uma evolução, mas a uma viagem: não subi de um andar para outro, segui, em planície, de um para outro lugar.”
www.teatro-dmaria.pt/Temporada/detalhe.aspx?idc=1151&ids=16


DANÇA: Masurca Fogo, de Pina Bausch – 2008, Um Festival Pina Bausch – CCB – 7, 8 e 9 de Maio de 2008.
A minha incursão na dança-teatro de Pina Bausch aconteceu com este espectáculo, no CCB.

“Dez anos depois da sua estreia, regressa ao CCB Masurca Fogo, espectáculo criado em Lisboa a partir do olhar de Pina Bausch e dos seus bailarinos sobre a cidade, onde trabalharam durante algumas semanas. Contrastando com a habitual austeridade das produções da coreógrafa, Masurca Fogo é um espectáculo cheio de cor, onde ritmos brasileiros e africanos vêm misturar-se livremente com o fado de Lisboa, num palco plantado à beira-mar.”

www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Danca/Pages/MAZURKAFOGO.aspx