sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Nine Inch Nails: The Downward Spiral

Numa altura em que os Nine Inch Nails parecem ser os próximos U2, é difícil lembrar os tempos em que os NIN, isto é, Trent Reznor, fazia álbuns conceptuais e editava trabalhos arriscados, com uma boa dose de experimentalismo e até ousadia. Músicas como Closer, de aparente simplismo mas de grande complexidade psicológica. Depois da espécie de circo que foi o lançamento, nos últimos quatro anos, de Year Zero, Ghosts I-IV e The Slip, com manobras de marketing e álbuns grátis oferecidos na internet à mistura, a rivalizar com os Radiohead, os Nine Inch Nails parecem ter atingido as massas e o respeito do público. Não o meu.

Comecei a interessar-me por NIN depois de The Fragile (1999), e o que mais me impressionava eram os sons de um mundo construído de raiz, cheio de solidão, dureza e paranóia. NIN eram únicos. O som era rock industrial mas era também algo diferente, era o mundo muito pessoal de Trent Reznor. As camadas de sons eram abstractas como a vastidão de paisagens desoladoras criadas a partir da cabeça de alguém perto da demência (em The Fragile, Things Falling Apart); ou a degradação e eventual anulação da identidade (em The Downward Spiral, Further Down The Spiral); a quebra das regras simbolizada no conceito da heresia (em Broken, The Downward Spiral); e o trabalho precursor que simbolizou a chegada do rock industrial ao mainstream – Pretty Hate Machine (1989). The Downward Spiral (1994) é talvez o álbum que resume Nine Inch Nails, e é ao mesmo tempo um dos melhores álbuns de sempre.
Tudo o que estava associado a Trent Reznor era excitante, como a parceria com David Lynch para a produção da banda sonora de Lost Highway, as performances e o trabalho de bastidores com David Bowie, a banda sonora para o vídeo-jogo Quake, a produção dos primeiros álbuns de Marilyn Manson, Twiggy Ramirez, as afinidades com Tool








Espiral Descendente

Parece, portanto, que são tempos que não voltam mais, para o bem e para o mal. Trent Reznor parece interessado em novos desafios, como transformar os concertos em eventos multimédia com tecnologia de ponta (como o último tour norte-americano Nights In The Sky) e em liderar a inovação na distribuição da música a um nível global, sem prejudicar os lucros. Em vez de deixarem a promoção e a maioria dos lucros nas mãos de uma editora, os NIN tomaram as rédeas da sua própria música e começaram a promover formas de o público se envolver com a banda (incluindo um jogo meta-virtual na internet para o lançamento de Year Zero), em vez de usar os antigos mecanismos publicitários. Os novos desenvolvimentos tecnológicos permitem isso mesmo – os gastos de distribuição para comercializar álbuns digitais no próprio site são muito reduzidos; filmar um vídeo musical, e mesmo concertos, deixou de ser dispendioso; os NIN descobriram novas maneiras de fazerem o público interessar-se, como oferecer 400GB de actuações ao vivo do último Tour, livres para serem editadas por qualquer um.

Trent Reznor apercebeu-se apenas de uma nova ideologia de fazer negócios que há algum tempo inunda a internet e não só – a de que é possível oferecer um produto grátis se houver pacotes de valor acrescentado, como edições limitadas, edições especiais assinadas, em que apenas uma fracção dos consumidores (os verdadeiros fãs) paga pela totalidade dos custos do produto, ao mesmo tempo que se mantém toda a gente envolvida e se gera momentum e hype.

Esta nova fase na carreira dos Nine Inch Nails vem na sequência de uma mudança de rumo na vida pessoal de Trent Reznor, que decidiu afastar-se da depressão, drogas, e a atitude auto-destrutiva. Ainda bem que essa mudança aconteceu, mas não se pode dizer que a música tenha saído favorecida.

Estava a brincar quando disse que os NIN parecem ser os próximos U2. Mas parece-me que os NIN deixaram de ser uma banda de nichos para passarem a ser uma marca, e isso à custa da qualidade da música. (Não igual, mas algo remotamente parecido com uns Rolling Stones ou uma Madonna, cuja qualidade musical se confunde e se extingue com a fama e a história da cultura pop). De tal forma, que o modo como os NIN estão a modificar os paradigmas da relação das bandas com o público é mais interessante que a própria música em si, que foi lançada numa sequência de álbuns medíocres (em comparação com trabalho anterior).
Uma coisa muito própria dos nossos tempos, portanto, em que é mais interessante o que está por detrás da cortina do que no palco.



www.nin.com
Wikipedia | Discografia
Music Milestones: 20 Years of Nine Inch Nails

6 comentários:

  1. o Trent Reznor (que é o mesmo que dizer os NiN...) sempre soube mexer-se bem na "indústria", enquanto a venda de discos rendia dinheiro, os NiN eram conhecidos por lançarem 2 ou 3 cd-single à volta do lançamento do cd & no fim ainda lançar um cd com as remisturas que já tinham editadas nos cd-single...
    agora que o negócio está a ser "reinventado", os NiN editam álbuns pela net, fazem a promoção pela net & já não param 4 ou 5 anos entre cada disco...
    costumo dizer que uma banda que edita um álbum tão bom como o Downward Spiral, tem direito a fazer discos banais... já asseguraram o seu lugar na panteão da boa música. :)
    só tenho pena de não so ter visto ao vivo por alturas do Downward Spiral... :(

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  2. Também eu, mas por essa altura talvez fosse novo demais para gostar de NIN (tinha 10 anos em '94). A única coisa que tenho desses tempos é o rip do Closure (halo 12), que os NIN estavam para editar em DVD, mas nunca o fizeram.
    Só os vi ao vivo no coliseu, na única vez que estiveram em Portugal, a promover o With Teeth (e deixar umas USB's no WC com músicas novas) e o line-up foi bastante old-school.

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  3. o line-up foi old-school... mas sem a "violência" dos anos 90.
    ;)
    os anos já pesam.

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  4. Bem, sendo assim, ainda bem que eu só conheço praticamente os NIN do Downward Spiral e da banda sonora do Lost Higway.... Às vezes, estar um bocado desligado das coisas, ainda que involuntariamente, pode, paradoxalmente, ter as suas vantagens :)

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  5. Conheço mto mal os NIN mas percebo a tua crítica. E acho a comparação STONES, Madonna bastante certeira. Mas, porventura, isso sao os revezes de pertencer a uma indústria pouco original e onde bons e originais artistas são 2 ou 3. Abandonar as drogas nunca fez bem a ninguém. Os Placebo sem drogas não têm piada nenhuma, e nem quero pensar a chan sem álcool no sangue...a dor permite criar duma forma que a sobriedade e a vida estável não permite, bem sei que são aqueles velhos lugares-comuns mas por isso mesmo não deixam de ser verdadeiros. Os NIN são um vulto da música e espalharam a sua importância por várias áreas. Mas terem-no feito tirou-lhes talvez o musical momentum. Mas inovaram e muito na venda da música---

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