domingo, 1 de novembro de 2009

Quando a Pop quer ser Clássica

As contaminações música popular com a música clássica não são de agora, mas vou tentar fazer uma compilação das colaborações recentes mais interessantes, numa altura em que a divisão entre música popular e clássica está em crise. Talvez o exemplo mais acabado dessa mistura seja o da islandesa Bjork.


Bjork
Live at Royal Opera House
Live at Cambridge

Não é de espantar que Bjork tenha um olhar tão particular sobre a música. Tal como a maior parte da população da Islândia, Bjork teve uma educação musical clássica. Nos anos 80, também como a maioria dos jovens de Reykjavik, Bjork fez parte de várias bandas de punk-rock (Kulk, Sugarcubes, ...). Essa dualidade entre a tradição e o desejo de afirmação geracional e individual revelou-se desde cedo. Bjork sempre revelou um gosto eclético nas propostas sonoras para cada álbum e, tão importante quanto isso, grande criatividade quando escolhe os instrumentos para apresentar cada álbum ao vivo. Desde a electrónica poderosa de Mark Bell e Leila (concertos do álbum Post e Homogenic), até à kora de Diabaté e aos instrumentos de sopro que usou nos concertos do último álbum, Volta, Bjork revela uma preocupação imensa com o universalismo da música tanto em termos geográficos como temporais. Para Bjork, a kora, na sua especificidade africana, não é inferior à guitarra que toda a gente conhece, e um sintetizador moderno tem tanta importância na música como um intrumento clássico como o violino.

É dentro dessa universalidade da música que Bjork se inscreve - a sua música é ao mesmo tempo clássica, avant-garde, indie e pop.

No concerto de Cambridge, em 1998, Bjork procurou a sonoridade clássica das canções pop de Homogenic, com um quarteto de cordas a acompanhar Mark Bell na electrónica.
No concerto na Royal Opera House de Londres, em 2001, Bjork tentou ir mais longe, e convidou Matmos (um duo de música experimental que produz e manipula sons a partir de objectos comuns), um grupo coral da Gronelândia e uma harpista, para em conjunto recriar o som minimal e muito electrónico do álbum Vespertine. O resultado foi um som delicado e orgânico.
O trabalho de Bjork com John Taverner e a reverência por Arvo Part e Stockhausen vêm reforçar ainda mais a sua proximidade com a música de composição do século XX (e complicar também os termos de separação entre música popular e música clássica).






Sem comentários:

Enviar um comentário