domingo, 25 de janeiro de 2009

2008 Rewind IV

Para alguém falido como eu, a melhor maneira de estar exposto às coisas mais interessantes possíveis por metro quadrado, no menor intervalo de tempo possível, e ao menor custo, é marcar uma viagem a Londres em época baixa. Aproveito a minha viagem a Londres de Setembro a Dezembro para acabar de fazer o balanço das coisas mais interessantes que vi em 2008, pelo menos em termos de música, cinema e artes plásticas.




EXPOSIÇÃO: LONDRES: TATE Modern + ROTHKO – 26 de Setembro a 1 de Fevereiro de 2009
O Tate Modern é um edifício magnífico, construído há pouco tempo mas sem parecer futurista, como a maioria dos novos museus de arte contemporânea. A exposição permanente foi a melhor exposição de arte contemporânea que vi até hoje (gratuita), mas a exposição especial (£12.5) da obra do Rothko foi uma desilusão por ser tão pouco representativa do percurso do pintor (em direcção ao abstraccionismo/minimalismo).
Eram à volta de 15 telas enormes em tons de preto, castanho e vermelho, em quase todas as combinações possíveis, dispostas num espaço relativamente pequeno de três salas. Pareceu-me que os quadros não foram suficientemente iluminados e não consegui ficar deslumbrado pela presença das telas, como esperava, nem ver bem a complexidade da textura da tinta ou as camadas de cor. Foi-me prometida uma experiência religiosa, mas nada aconteceu. As telas mais impressionantes foram as de negro sobre negro, e foram também o mais próximo que estive de uma epifania, mas os crentes eram tantos que era impossível estar sentado a ver uma pintura em paz e sossego. No final, como a compensar, comprei um azulejo (pintado a emular a técnica de Rothko) na loja do Tate.
Aparte tudo isto, não desisti nem de Rothko nem de ver uma grande exposição da obra dele.

Fotos: Tate
Mais informação e exposição virtual em:
http://www.tate.org.uk/modern/exhibitions/markrothko/default.shtm
Flickr:
http://flickr.com/search/?q=rothko+tate+modern&m=text





EXPOSIÇÃO: LONDRES: TATE Britain + FRANCIS BACON + Turner Prize 2008 – 11 de Setembro de 2008 a 4 de Janeiro de 2009

O Tate Britain é o irmão mais velho do Tate Modern, um explora a arte dos séculos XIX e XX (uma colecção belíssima), o outro explora as vanguardas do século XX e a arte contemporânea. A ligá-los está uma viagem de barco pelo Tamisa. Exposições de artistas da dimensão de Rothko e Bacon surgiram ao mesmo tempo nos dois museus, como que a chamar à atenção para a disparidade de expressão da arte moderna.
Desde que cheguei a Londres que queria ver a exposição do Francis Bacon, a mais completa até hoje, ao que parece, na altura do centenário do seu nascimento. Havia publicidade no metro, nos jornais e na rua. Bacon é uma das referências da arte do pós-guerra. Deu um novo fôlego à pintura e ao figurativismo quando se pensava que um e outro tinham os dias contados, numa altura em que a instalação, fotografia, vídeo art e a land art começavam a criar interesse.

Não vou fingir que sou o maior especialista em arte contemporânea (a minha área, antes de cinema, foi científica), mas Bacon é o meu pintor favorito, por isso vou ser o mais poético/lírico possível, até ao limite do suportável. Os quadros são intensos e as cores são fortes, há corpos em revolução num fundo negro, animais em movimento, abismo e morte, angústia, solidão, crucificações, por vezes tudo no mesmo quadro. Corpos humanos são, na verdade, carcaças em potência, e os seus movimentos, animalescos. São um olhar penetrante até à essência humana e à dor de viver do homem moderno. A violência do real é quase inacreditável, completamente insuportável. É o tipo de imagem que fez Lynch ser linchiano.



Foi agradável ver tantos quadros tão bons no mesmo sítio. Havia gente a mais e tempo a menos, como tudo em Londres. Gostava de ter visto os quadros mais uma vez.
A exposição foi exaustiva e mais educativa do que a do Rothko, no Tate Modern. Houve espaço para esquissos, livros, fotografias (maltratadas pelo estúdio que ficou lendário pela sua desarrumação) coleccionadas por Bacon e nas quais se baseava para as suas obras. Algumas fotografias, retiradas de livros, revistas, filmes, são muito esclarecedoras quanto ao modo como se transfiguraram em pintura, e de repente é fácil perceber o que move Francis Bacon. Bacon era claramente um artista da quarta dimensão, isto é, do movimento e da verdade que lhe era revelada no puro instante da fotografia – os seus quadros, mais reais que o real.

"I think that man now realizes that he is an accident, that he is a completely futile being, that he has to play out the game without reason". Francis Bacon

Mais informação e exposição virtual em:
http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/francisbacon/
Flickr:
http://flickr.com/search/?q=francis+bacon+tate+britain&m=text
Documentário sobre Francis Bacon:
http://www.ubu.com/film/bacon.html


Também no Tate Britain, esteve a exposição colectiva Turner Prize 2008. O Turner Prize é um prémio anual de arte contemporânea para os novos artistas britânicos que produziram o percurso mais interessante. Este ano o vídeo esteve em força, quase todos os participantes o utilizaram. Nota-se uma mudança de paradigma nos materiais utilizados, no discurso, na forma de comunicar com o público, no modo de fazer arte – mas nada de radicalmente novo é dito. Este ano os artistas presentes foram Runa Islam, Mark Leckey, Goshka Macuga e Cathy Wilkes. Mark Leckey acabou por ganhar o Turner Prize 2008, pelas exposições Industrial Light & Magic e Resident.
http://www.tate.org.uk/britain/turnerprize/turnerprize2008/

Simultaneamente, no corredor central do museu, um projecto de Martin Creed (Turner Prize de 2001) pôs pessoas a correr pela galeria a cada 30 segundos. (algo parecido com o que acontece no Louvre em Band à Part (1964), de Jean-Luc Godard)
http://www.tate.org.uk/britain/exhibitions/duveenscommission/default.shtm





EXPOSIÇÃO: LONDRES: ANDY WARHOL: Other Voices, Other Rooms + ROBIN RHODE: Who Saw Who – The Hayward Gallery / Sounthbank Centre – 7 de Outubro de 2008 a 18 de Janeiro de 2009
Adoro Andy Warhol. Gostar da maioria dos grandes pintores do pós-guerra pode parecer uma contradição, porque são todos tão diferentes (Warhol rompeu com a tradição artística que Pollock desenvolveu, por exemplo, apesar de eu gostar de ambos), e grande parte deles desenvolveu obras que romperam com o passado à sua maneira (criaram ramificações na história da arte por serem tão pessoais). Quase todos também se interrogaram sobre o que faz uma obra de arte ser uma obra de arte, algo que continua nos dias de hoje. Artistas como Pollock, Rothko, Bacon, Warhol, e mais recentemente, Richter.

É preciso notar que o meu interesse pelas artes plásticas é puramente amadora. O meu percurso não foi artístico, apenas tento ver o máximo de arte possível; gosto do que gosto e tento perceber porquê.
Warhol fez-me gostar de arte, e questionar-me sobre a prática e o objecto artístico. Gostei imediatamente da sua irreverência intelectual. Warhol era sobretudo um artista das ideias. As pinturas/impressões são simples mas os conceitos são complexos. Os filmes de Warhol são, para mim, especialmente poderosos e inovadores. Eat, Sleep, Empire, e a maioria dos seus filmes mudos a preto e branco, são meditações sobre o tempo, o ser, “acting” e “non-acting”, e sobre a própria imagem em movimento. É como olhar pela primeira vez para alguma coisa. É refazer a história do cinema.



Esta exposição, na Hayward Gallery, foi precisamente sobre os filmes de Andy Warhol, incluindo alguns dos famosos “screen tests”, o trabalho televisivo para a Warhol TV, e arquivos vídeo sobre a Factory. A filmografia mais importante estava toda numa única sala enorme, a ser projectada simultaneamente em vários ecrãs, com som localizado (quando existia). Foi interessante para quem queria encontrar um estilo comum, se é que ele existe, na obra cinematográfica de Warhol, ou ter noção da sua variedade, mas frustrante para quem queira conhecer a obra a fundo, porque era impossível ver tudo (Chelsea Girls demora cerca de 3 horas, por exemplo). Em exposição, havia ainda desenho, livros, capas de discos, revistas, e toda a espécie de documentos que Warhol juntou obsessivamente ao longo da vida. Uma exposição ambiciosa, mas sem o espaço necessário (que precisa de ser repensado) para dar a conhecer a imensidão de arte e informação que contém.

Mini-site da exposição:
http://www.southbankcentre.co.uk/minisite/andy-warhol
Flickr:
http://www.flickr.com/search/?s=int&q=Hayward+Andy+Warhol&m=text
Documentário sobre o cinema de Warhol:
http://www.ubu.com/film/warhol.html



Também na Hayward Gallery, Robin Rhode: Who Saw Who. Robin Rhode é um artista contemporâneo sediado em Berlim, que trabalha no domínio da performance. Muitos dos seus trabalhos envolvem desenhos a giz de objectos comuns, na parede ou no chão, e as performances são o resultado da interacção do artista com a figura bidimensional. É um artista da rua. Desenha uma mesa de mistura e tenta pôr um disco, desenha uma bicicleta e tenta montá-la... Uma exposição muito interessante de um artista em ascensão.

Mini-site da exposição:

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