quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

2008 Rewind VI

Mais música:
CONCERTO: LONDRES: MICHAEL VAN DER AA - Mask, Here [In Circles] - Southbank Centre - 9 de Outubro de 2008
Michael van der Aa (MySpace) é um jovem compositor holandês que apresentou dia 9 de Outubro, no Southbank Centre, as obras Mask e Here [In Circles] (substituída à ultima da hora), integrado no ciclo Music of Today. Som novo! Vou deixar que alguém descreva a música por mim, porque eu não consigo:

“The Dutch Michel van der Aa is one of the most exciting younger composers anywhere, active in both concert music and multi-media. The music is unflinchingly clear, hard-edged, sharply profiled and rhythmically agile. Both works heard in this opening Music of Today concert combine instruments with technology to decidedly unexpected and sometimes ironic effect.”

Outra descrição:
"Michel van der Aa writes music that is similar in its effect to photography… music as an art of time is detached from time itself, and sounds become snapshots of a process. Potential developments are immediately blocked by interruptions, flashbacks, unexpected repetitions. The doubling of music through an electronic shadow creates a kind of multiple exposure… the impression of the music is strong and emotionally draining." Berliner Zeitung

As duas peças não foram particularmente difíceis, o que não quer dizer que não me tenham passado igualmente ao lado. Mas é agradável ver alguém tão novo como Michael Van Der Aa a compor. Quando imagino compositores modernos (como Stravinsky, Ligeti), imagino velhos sábios a ensaiar orquestras de forma implacável, nunca penso propriamente que eles foram jovens e já compunham na altura. Pelo menos, é agradável ver alguém reconhecido pela sua obra antes de ser septuagenário.
Na apresentação do concerto, Michael van der Aa revelou o seu interesse pelas artes performativas e pelo cinema, e de como integra esses aspectos na sua forma particular de escrever música. Melhor que tudo, revelou a preparação de um novo trabalho baseado no Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, um nome que cada vez mais se ouve falar e que parece estar na moda no mundo artístico (digo eu). A estreia da obra de música-teatro (e multimédia) The Book of Disquiet foi a 2 de Janeiro, em Linz, Áustria (capital Europeia da cultura), com Klaus Maria Brandauer, a fadista Ana Moura e João Reis (o mesmo actor que interpretou Pessoa na peça Turismo Infinito, no D. Maria II). Ao que parece, a peça foi muito bem sucedida. Segundo o site do compositor, novas apresentações da peça estão planeadas para a Holanda e Portugal para o final do ano, portanto resta-nos esperar. Crítica da estreia aqui.



Fernando Pessoa traduzido para inglês fica assim:

From The Book of Disquiet:

"Today, feeling almost physically ill because of that age-old anxiety which sometimes wells up, I ate and drank rather less than usual in the first-floor dining room of the restaurant responsible for perpetuating my existence. And as I was leaving, the waiter, having noted that the bottle of wine was still half full, turned to me andsaid: ‘So long, Senor Soares, and I hope you feel better.’"

"My favourite dream, where I'm a retired major in a small-town hotel, hanging on after dinner - the lingering major, sitting there for no reason."

"And I began, all by myself, to make paper boats with the lie they'd given me. No one would believe in me, not even as a liar, and there was no lake where I could try out my truth."

"Useless landscapes like those that circumscribe Chinese teacups, starting out from the handle and abruptly ending at the handle. The cups are always too small...Where would the landscape continue if it could continue past the teacup handle?”

"I used to hear the sound of scales played on a piano, the monotonous practicing of a girl I never actually saw...And with the relentlessness that comes from the world's depths, with a persistence that strikes the keys metaphysically, the scales of a piano student keep playing over and over, up and down the physical backbone of my memory."

"I throw an empty matchbox towards the abyss that's the street beyond the sill of my high window without balcony."

Fotos: www.doublea.net
http://www.boosey.com/cr/news/Michel-van-der-Aa-Music-of-Today-premieres-in-London/11674
http://www.doublea.net/work_info/w_disquiet.html


EXPO/CONCERTO: LONDRES: Felix’s Machines + Leila Arab + Paul Davis – Gasworks Gallery – 19 de Dezembro de 2008
Felix’s Machines é a exposição apresentada por uma pequena galeria em Vauxhall de uma obra techno-artesanal de Felix Thorn. O conceito é simples: uma máquina de tocar instrumentos (essencialmente de percussão e xilofone), programável através de computador. À medida que a máquina toca, são accionadas pequenas luzes que sinalizam a proveniência do som, e o espectáculo sonoro torna-se visual também. A música que esteve em mostra parecia algo saído de um novo álbum da WARP, com batidas concertadas, muito rápidas, próximo da música electrónica (IDM/braindance) desenvolvida por Aphex Twin. É por isso apropriado que Leila Arab, uma manipuladora de sons que já trabalhou com Björk, gravou com a Rephlex, e lançou em 2008 pela WARP o álbum Blood, Looms, and Blooms, tenha sido convidada para actuar na festa da exposição. Paul Davis também apresentou um DJ set (com um som mais urbano), mas passou-me despercebido comparado com Leila, que alternou entre a spoken-word, noise, e samples desde Erik Satie a Aphex Twin, tudo com um apurado sentido musical. Foi um DJ set monumental.



Fui à exposição/concerto sem saber quem era Leila Arab. Só quando a vi a preparar-se para actuar é que me apercebi que já a tinha visto em grande performance, ao lado de Björk num concerto de 1997, Live at Shepherd’s Bush Empire, em DVD - numa altura em que parecia que Björk se ia passar para o lado do techno-industrial. Alguém me sabe dizer o que se passa no final desta música? (YouTube)



Mais importante, Eileen Simpson e Ben White fizeram mais tarde uma performance (a 19 de Dezembro, mas a que eu não assisti) com música original baseada na sonoridade das caixas de música do séc. XIX, e também música especialmente composta para Felix’s Machines, desta vez já com Felix Thorn, e mais parecida com o trabalho minimalista de Steve Reich. Ao conjunto deu-se o nome Perforations. É de copyright livre e pode ser adquirido aqui.
Foto: Gasworks Gallery
http://www.gasworks.org.uk/exhibitions/detail.php?id=403
http://www.youtube.com/watch?v=4CdA-ivDj8o



CONCERTO: London Symphonic Orchestra – BÉLA BARTÓK – Concerto para cordas, percussão e celesta + JOHANNES BRAHMS + AUGUSTA R. THOMAS – Barbican Centre – 14 de Dezembro de 2008
Aliada a imagens sugestivas, a música de Bartók fez de Shining, de Stanley Kubrick, o filme assustador que é, e colou-se ao filme da mesma forma que Assim Falava Zaratustra, de Richard Strauss, se colou a 2001: Odisseia no Espaço e às nossas memórias colectivas. Dia 14 de Dezembro fui ver e ouvir a peça “Música para cordas, percussão e celesta” de Béla Bartók no Barbican Centre, tocada pela LSO, numa casa metade cheia, e devo dizer que foi tão poderoso que cheguei a casa e tive de ouvir várias vezes o segundo movimento porque não me saía da cabeça. Quanto aos críticos, nem tanto (notícia, aqui). O piano e a harpa, instrumentos extremamente melódicos, são usados nesta peça quase como instrumentos de percussão. A peça tem uma energia imensa, e os sons dos instrumentos vão-se transfigurando uns nos outros constantemente. Aqui está um excelente exemplo desta obra de Bartók, conduzida por Christoph von Dohnányi (YouTube):



Esta foi uma sessão em que também teve lugar a estreia mundial de Helios Coros II, a segunda parte de um bailado ainda por terminar de Augusta Read Thomas, de quem eu nunca ouvi falar, mas ao que parece é uma das compositoras americanas mais interessantes da actualidade. Numa sessão uma hora antes do concerto, Augusta Thomas (uma mulher de 40 anos muito expansiva e sorridente) explicou o seu percurso e a sua obra mais recente. Mas a peça musical não teve grande impacto, talvez precisamente por ser parte de uma peça de bailado - que ainda não vimos - e por ser a segunda parte de um bailado cuja primeira parte também não ouvimos, portanto não me culpo demasiado. Mas ficou a ideia de grande leveza, uma música que nunca se repete, transforma-se sempre.
Tocou-se ainda o Concerto para Piano N.º1 de Brahms – o seu primeiro trabalho orquestral.

http://lso.co.uk/home/

Sem comentários:

Enviar um comentário